Uso excessivo de telas está ligado a ansiedade, agressividade e vício infantil

Se seu filho não te escuta, esperneia ou grita quando se irrita, talvez seja hora de rever quanto tempo ele passa diante de dispositivos digitais. É o que sugere um artigo publicado na segunda-feira (9) no Psychological Bulletin, da Associação Americana de Psicologia.

Segundo uma meta-análise com 117 estudos envolvendo crianças de até 10 anos e meio, quanto maior a exposição a conteúdos eletrônicos, maior a chance de surgirem comportamentos ou sentimentos inadequados para a idade. Os impactos mais comuns são ansiedade, depressão, hiperatividade e agressividade — com destaque para os efeitos entre meninas.

Embora os estudos tenham metodologias distintas, o padrão geral aponta que prejuízos começam a aparecer quando:

  • crianças com menos de 2 anos são expostas a vídeos ou jogos (exceto videochamadas);
  • crianças de 2 a 5 anos ultrapassam uma hora diária nesse tipo de atividade;
  • e crianças mais velhas passam mais de duas horas por dia em frente a essas tecnologias.

Jogos eletrônicos, em especial, foram associados a maior risco. Meninos entre 6 e 10 anos demonstraram mais propensão a desenvolver dificuldades emocionais do que crianças menores.

Além disso, crianças que já apresentam problemas tendem a recorrer ainda mais aos conteúdos digitais como forma de escape — o que pode agravar a situação. “O uso excessivo de dispositivos não é só causa, mas também sintoma”, explica a professora Roberta Pires Vasconcellos, da Universidade de New South Wales, na Austrália.

Segundo ela, muitas crianças emocionalmente fragilizadas buscam alívio rápido em jogos e vídeos, o que reforça um ciclo de dependência. “Esse padrão pode mascarar o verdadeiro problema e dificultar o desenvolvimento de estratégias saudáveis de enfrentamento.”

Apesar de robusta, a análise tem limitações. Ela não considerou fatores como estilo parental ou classe social. Além disso, o uso das redes sociais não pôde ser analisado separadamente, pois os dados avaliavam o tempo total de exposição digital.

Ainda assim, os achados oferecem orientações práticas para pais e responsáveis que desejam proteger a saúde mental dos filhos:

Evite usar aparelhos como babá digital
Muitos adultos entregam celulares ou tablets para acalmar a criança em momentos de estresse, como na hora do trabalho ou em locais públicos. Mas, segundo Vasconcellos, essa estratégia pode ter efeitos contrários no longo prazo. “A criança deixa de desenvolver autorregulação e passa a depender do estímulo eletrônico para se acalmar”, diz.

Observe se o uso vira válvula de escape emocional
A especialista recomenda atenção aos sinais: se a criança busca esses conteúdos sempre que está chateada, isso pode indicar que está usando o recurso como fuga emocional. “Em vez de culpabilizar o celular ou o jogo em si, tente entender o que está por trás do comportamento”, sugere.

Cuidado redobrado com jogos online
Jogos interativos funcionam muitas vezes como redes sociais, gerando pressão para permanecer conectado e competir. Isso pode comprometer atividades importantes como sono, tarefas escolares e contato com amigos ou familiares.

Estabeleça regras claras e use os recursos disponíveis
Definir horários e limites de uso ajuda a criar previsibilidade e controle. Muitos dispositivos oferecem configurações de tempo e filtros de conteúdo — e é importante usá-los. Vasconcellos recomenda priorizar aplicativos educativos e limitar os que geram compulsão, como plataformas de vídeo sob demanda.

Dizer não também faz parte do cuidado
Pais e mães nem sempre precisam ceder. Ainda que a frustração da criança seja imediata, os benefícios vêm a longo prazo. A pesquisadora lembra que a exposição intensa a celulares e redes sociais está associada a distúrbios do sono, vício, dificuldades de atenção e insatisfação corporal.

A experiência conta
Se um filho mais velho teve acesso ao celular aos 10 anos, isso não significa que o irmão mais novo precise seguir o mesmo caminho. “Hoje temos mais dados, mais consciência. E podemos fazer diferente”, orienta.

Uma mãe, por exemplo, contou ter oferecido à filha o equivalente a R$ 8.900 para adiar o uso do celular até os 16 anos. A filha aceitou. Nem todos têm essa possibilidade, mas a criatividade pode ajudar — um acampamento em família ou uma viagem com amigos pode ser uma alternativa mais saudável.

O mais importante, segundo os especialistas, é reavaliar como as crianças estão usando a tecnologia. Recusar o acesso pode gerar gritos e crises no início, mas tende a proteger a saúde emocional delas no futuro.

Fonte: CNN Brasil

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