É cada vez mais comum ver crianças conectadas a telas, seja assistindo a vídeos ou jogando online. Adolescentes com smartphones em mãos também se tornaram parte do cotidiano. Embora o avanço digital tenha trazido benefícios, pais e especialistas se preocupam com os impactos desse hábito na saúde mental, física e no desenvolvimento das novas gerações.
Casos recentes reforçaram esse alerta. A morte de duas crianças, de 8 e 11 anos, após participarem de um desafio online envolvendo a inalação de aerossol, acendeu um sinal vermelho. Pesquisas também indicam um cenário preocupante: nove em cada dez brasileiros acreditam que os jovens não têm apoio emocional suficiente nas redes sociais. Outro estudo, publicado na revista Nature Human Behavior, revelou que adolescentes com problemas de saúde mental tendem a passar mais tempo nas redes do que aqueles sem esses transtornos.
Frente a esse contexto, surgem iniciativas como o Movimento Desconecta, que propõe adiar o uso de celulares até os 14 anos e o acesso às redes sociais até os 16. Segundo a cofundadora Antonia Brandão Teixeira, essas faixas etárias seguem as orientações mais comuns de psicólogos e especialistas em desenvolvimento infantil.
A neuropsicóloga Lilian Vendrame reforça a importância de restringir o uso de telas na infância. Para crianças menores de dois anos, a recomendação da OMS é clara: nenhum contato com telas. Entre dois e sete anos, o uso deve ser limitado a uma hora por dia. Segundo ela, a exposição precoce pode afetar o desenvolvimento da atenção, da linguagem, da memória e das habilidades sociais.
A Sociedade Brasileira de Pediatria também orienta limites de acordo com a faixa etária:
- Até 2 anos: nenhum contato com telas;
- De 2 a 5 anos: até 1 hora por dia;
- De 6 a 10 anos: de 1 a 2 horas por dia;
- De 11 a 18 anos: de 2 a 3 horas por dia.
Para Vendrame, o papel dos pais é fundamental. Ela defende a necessidade de conscientização dos adultos, inclusive com o uso de livros infantis que abordem o tema. O diálogo contínuo e a imposição de limites claros são fundamentais para evitar danos.
E quando o acesso já foi concedido? Teixeira reconhece que muitos pais tomaram essa decisão sem conhecer os riscos, mas ainda é possível adotar medidas de proteção. Ferramentas de controle parental ajudam a limitar o tempo de uso, bloquear sites e jogos inadequados, e facilitam o monitoramento das atividades online.
Vendrame acrescenta que os pais precisam resgatar práticas mais simples de convivência e lazer. Brincadeiras físicas, atividades ao ar livre, leitura, pintura e jogos analógicos são essenciais para um desenvolvimento saudável, além de fortalecer os vínculos familiares.
Ela e Teixeira também alertam sobre sinais que podem indicar que algo está errado:
- Isolamento ou perda de interesse por amigos e atividades físicas;
- Irritabilidade ou reações exageradas;
- Dificuldade em lidar com limites;
- Mudanças bruscas de comportamento ou de estilo;
- Permanência excessiva no quarto e na internet.
Estar presente, dialogar e observar são atitudes que fazem diferença. Em um mundo hiperconectado, o desafio não é apenas controlar as telas, mas reconstruir os laços entre pais e filhos diante de uma infância cada vez mais digital.
Fonte: CNN Brasil