“Vai pra Cuba!”

Mesa de bar é lugar para todo tipo de conversa. Do futebol à vizinha gostosa, de música à carestia da vida, de piadas a histórias tristes… Quando se aproxima o período eleitoral, porém, a política costuma dominar a maioria dos debates etílicos. Os “filósofos de botequim” costumam dar verdadeiras aulas de sociologia, história e estratégia eleitoral.

Sentei, pedi ao Zé um chopp Brahma com dois dedos de colarinho e uma porção de azeitonas pretas temperadas. Ir a um botequim sozinho sempre aguçou minha criatividade. Carrego esse hábito há muitos anos. Na mesa à frente, um grupo animado e eufórico debatia sobre a eleição que se avizinhava, comunismo, capitalismo e outros clichês demodês e enfadonhos.

– Vai para Cuba! – gritou um deles, batendo fortemente na mesa.

Me assustei. Não com a fala, que é comum em desprovidos de conhecimento quando querem “debater” sobre o “capitalismo vs comunismo”. O que me assustou foi a força do tapa sobre a mesa e a cara de ódio que o rapaz exibia. Via de regra, essas pessoas que gritam ao debater, já perderam o debate.   

Lembrei imediatamente de um seleto amigo, médico, formado em Cuba, e profundo defensor da ilha caribenha. “Cuba é um país fantástico, um povo extraordinário”, costuma dizer.

Após o susto, me desliguei do mundo ao meu redor e levei meu pensamento à ilha, país que quando conquistou sua independência das garras espanholas, sucumbiu sob a gana dos EUA, com o Tratado de Paris, que estabeleceu um governo militar americano em Cuba e que perdurou entre 1898 e 1902, ano em que a República de Cuba finalmente estabelece um governo cubano se tornando oficialmente um país independente, sob a presidência de Fulgêncio Batista.

Fulgêncio fora derrubado do poder em 1959 pela Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro, filho de família rica e de muitas posses, mas que seguiu o caminho da revolução armada. Castro tomou o poder de Cuba por intermédio de um movimento formado por guerrilheiros e sofreu severa oposição dos Estados Unidos. Para manter seu governo, aliou-se à União Soviética.

Em 1961, os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com Cuba e promoveram um fracassado ataque contrarrevolucionário. Cuba ficou isolada política e economicamente quando os americanos decidiram impor um embargo contra o país.

Durante os anos que permaneceu no poder (problemas de saúde o afastou da presidência em 2008), Fidel foi acusado de implantar uma ditadura que perseguia, prendia e matava opositores. Por outro lado, recebera elogios por conseguir implantar um dos melhores sistemas de saúde e de educação do mundo. Ao longo dos seus 49 anos no poder, seguiu sendo um inimigo público dos Estados Unidos e sobreviveu a centenas de tentativas de assassinato elaboradas pela CIA.

Cuba tem um índice de analfabetismo de 0,2%, ante os 8,3% do Brasil. É o segundo país mais seguro da América Latina, com apenas 4,2 homicídios por cada 100 mil habitantes. No Brasil esse número é de 21,7 assassinatos por cada 100 mil habitantes.

Meus pensamentos foram interrompidos quando o rapaz da mesa vizinha dá outro tapa na mesa e vocifera:

– Em Cuba só tem três coisas que funcionam: saúde, educação e segurança!

Depois disso só me restou pedir ao Zé a saideira, a conta e ir beber em outro bar.   

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