Ser é mais importante do que ter

   Não é de hoje que a dita “família tradicional” brasileira ensina seus filhos que ser bem sucedido na vida é ter uma conta bancária rechonchuda. No português claro: Ter grana! Se somado a isso, tiver um canudo embaixo do braço, melhor ainda. Mas isso não é tão importante. O que vale mesmo é dinheiro no bolso. Pouco importa um diploma se anda de ônibus e conta os trocados ao final de cada mês. E assim, de geração em geração, vamos preparando nossos filhos para serem pessoas “bem sucedidas”. Ou seja, ricas!

  Certa feita, estava no supermercado com meu filho de 5 anos, quando um velho conhecido que há muito não via, perguntou: –E esse guri, vai ser o que quando crescer? Fui sucinto na resposta: Feliz! Mas o amigo não se deu por satisfeito e treplicou: -Vai ser doutor igual ao avô? Dei de ombros, sorri e segui em frente pensativo. Por que será que ele não perguntou diretamente ao menino coisas do tipo, qual a sua cor preferida, para que time você torce, qual super-herói mais gosta etc… Por que insistimos em mostrar aos nossos filhos o preço e não o valor das coisas?

As pessoas estão mais preocupadas com os bens materiais do que com coisas que deveriam estar à frente. Como por exemplo, a felicidade e bem estar. Hoje é mais importante ser rico do que ajudar ao próximo, ganhar a qualquer custo do que dar sem qualquer retribuição. Mais importante colecionar carros do que amores. Todo dia me deparo com gente dizendo “quero comprar aquilo” ou “se eu tivesse aquilo seria tão feliz”. Será que ser rico é ser feliz?  Poderá a felicidade ser comprada com dinheiro?

  Não é a intenção desse artigo, fazer uma apologia à pobreza ou dizer que dinheiro é uma coisa ruim. Como diriam alguns por aí, “estou ficando velho. Não doido.” Dinheiro é bom. Muito bom. Não é tudo! E nem deveria virar um obsessão na cabeça das pessoas. Estamos gastando a vida em busca de dinheiro e esquecendo de viver. Companhia se compra. Amor não. De que adianta uma fortuna sem amor? Seja ele de companheiro(a), Filho(a), amigo(a) ou família. Amor não tem preço.  

  Peguei minhas compras, passei pelo indefectível caixa, e ainda pensativo com a breve conversa que tive, peguei o rumo de casa. O que me adianta ter um filho doutor “igual ao avô” se ele for um mau caráter?  Assim como o amor e a felicidade, o caráter também não está à venda. Mas muitos deixam o caráter de lado para ter o que querem. Ensinam seus filhos que uma furadinha de fila ou embolsar um troco errado é coisa inofensiva. De gente esperta. É mais importante ser esperto do que ser direito hoje em dia. E em algumas ocasiões, quem é honesto é chamado de otário. Seguimos burlando leis, sonegando impostos, jogando lixo em ruas e rios, arrumando atestado médico para faltar ao trabalho e furando filas. No fim, a gente coloca a culpa de tudo nos políticos e tá tudo certo.

  Existem também pessoas que são compradas, pessoas que se vendem, vendem seus entes queridos, traem, ignoram seus princípios. O dinheiro, infelizmente é a engrenagem do mundo e enquanto assim o for, existirão pessoas inescrupulosas atrás dele.

  E eu vou chegando em casa, sendo recebido com abraços e beijos despretensiosos que me dão à certeza que continuarei remando contra essa maré. Ensinando os meus pequenos que ser é muito mais importante do que ter. E que do fundo de minh’alma, o que desejo para eles é felicidade. Aquela que não está nas prateleiras dos supermercados ou em alguma concessionária qualquer.

Artigo publicado no site Diário do Acre em 30/04/2019

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