Rodrigo Farias escreve: “Garçom, uma mesa para um”

Ir ao bar sozinho sempre foi uma prática corriqueira para mim. Nunca tive problemas em estar sozinho… sair sozinho… ir sozinho em um jogo do Flamengo no Maracanã ou, simplesmente, parar em um bar e beber uma cerveja comigo mesmo.

Era uma tarde de terça-feira, um dos dias mais sem graças da semana, para mim. Resolvi dar uma volta pelo bairro e parar em algum botequim para beber algo. E assim o fiz.

– Ulisses, me traga uma dose de Campari e uma Brahma bem gelada, por favor.

Sempre que resolvo “tomar umas” comigo mesmo, reflito sobre o raro prazer que sinto em me fazer companhia.

Vivemos em uma sociedade que valoriza intensamente o convívio social. Desde muito cedo, somos estimulados a buscar companhia, a formar laços e a estarmos rodeados de pessoas. E isso não é ruim. Porém, nem sempre estamos preparados para entender que estar sozinho não é sinônimo de solidão. Pelo contrário, em muitos momentos da vida, estar sozinho pode ser uma dádiva, uma oportunidade única de nos reconectarmos e descobrirmos que podemos ser a nossa melhor companhia.

A “solidão”, mesmo que intencional, momentânea ou esporádica, pode passar muitas vezes a impressão de vazio, mas estar sozinho por escolha é completamente diferente. Pode ser um momento de introspecção, de pausa, de reencontro… É quando podemos ouvir atentos os nossos próprios pensamentos, sem a interferência externa, e nos dedicar ao que realmente importa: nós mesmos.

A felicidade de curtir a própria companhia está na liberdade que isso traz. Você escolhe o que fazer, o ritmo, o tempo, o tempero… pode se entregar a um livro, caminhar sem rumo pelas ruas, escrever, meditar, beber uns chopes no bar da esquina, ou simplesmente assistir ao pôr do sol em silêncio.

Quando nos permitimos gostar de estar sozinhos, também nos tornamos mais seletivos em relação às pessoas que escolhemos para compartilhar nosso tempo.

Andy Campos, autor do livro “O poeta bêbado”, escreveu: “Gosto de beber sozinho, somente eu e a garrafa. Desta forma tenho a melhor ouvinte, aquela que não me julga, não retruca e, acima de tudo, guarda para si qualquer tipo de segredo”.

Eu gosto de beber com amigos, com minha esposa e também sozinho, que é quando organizo meus pensamentos, rabisco alguns textos e repagino mentalmente a vida.

– Ulisses, me traga mais uma dose de Campari, a saideira e a conta, por gentileza.

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