Psicólogo escreve sobre emoção disfuncional e polarização política

Negacionismo patológico

Escrevi há algum tempo uma reflexão sobre o que motivava pessoas que não eram beneficiadas materialmente (ou até mesmo desprestigiadas) a um apoio incondicional aos governos do PT (o que já seria uma incoerência, sabendo como funciona a política e os quereres humanos) diante de evidências cabais de corrupção, perseguição, desvios de finalidade de recursos e funções públicas.

Aos que eram beneficiados materialmente a justificativa estava explícita, por isso o interesse no outro grupo. Então, depois de analisar falas e trajetórias de vida, percebi que as emoções que conduziam os seus discursos e comportamentos eram uma construção de longa vivência com eventos marcantes e singulares. Essa era a chave. Abandonar pensamentos e comportamentos pelo bom senso seria destruir uma emoção constitutiva muito forte, seria uma perda dolorosa que essas pessoas não estavam dispostas a encarar. A realidade ficava reprimida da consciência.

Vendo agora as manifestações de apoiadores do Presidente Bolsonaro, constato a repetição do fenômeno. Na verdade, a continuação. Em parte a negação anterior alimenta esta. As pessoas que estavam inquietas, atentas e prejudicadas no governo anterior, nutriram por muito tempo um sentimento de aversão ao PT e de ânsia por poder (apoiadores se projetam no líder) e por isso, a maioria das críticas ao atual governo são rebatidas com apresentações de situações do passado (na tentativa de justificar o erro, ou visualizar os outros e negar estes).

Isso ficou inscrito na mente e não foi superado/elaborado. Há ainda outro detalhe: quanto mais bizarro é um ato do governante, mais os apoiadores (que agora são negadores da realidade) precisam se esforçar para endossá-lo. Exigindo mais da emoção e abdicação da razão (pessoas colocando a si e seus pares em risco em uma aglomeração para apoiar um discurso tosco que atenta contra a própria natureza do evento, por exemplo).

Essa emoção é tão perigosa que leva a subjugação da vida. A parte boa do quadro caótico é que pessoas estão se desligando do apoio irrestrito, da negação, e analisando com bom senso e críticas plausíveis o que estamos passando. Espero que Nietzsche esteja correto: é preciso caos para nascer uma estrela cintilante!

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