O dia em que o vizinho “boa praça” me fez refletir sobre a xenofobia

Seu Otávio era um bonachão, sempre de bem com a vida. Quase sempre com a camisa do Vasco da Gama. Ninguém é perfeito. Parecia ser aquele tio legal, que dá vontade de sentar para tomar umas cervejas ouvindo suas histórias. Mas naquela tarde, ele não parecia estar muito de bem com a vida. Com a cara fechada, e faltando-lhe o sorriso largo, me cumprimentou laconimente.

– Boa tarde, meu jovem.

– Boa tarde, Seu Otávio – respondi, seguido de um sorriso.

– Ainda há pouco no mercado, um sujeito, acredito que era haitiano, me pediu uma ajuda para comprar alimentos e eu ajudei. Até aí tudo bem, mas me veio um senhor raivoso me criticar por eu ter ajudado um forasteiro enquanto milhões de brasileiros estão passando necessidades básicas.

Respondi com um leve arregalar de olhos, como que mostrando espanto. Seu Otávio então prosseguiu.

– Esse tipo de gente, que não se sensibiliza ao ver a fome de um irmão, pelo simples fato deste não ter nascido no mesmo país que ele, me enoja. Eu ajudei um ser humano que estava com fome, caramba. Aí vem um infeliz me repreender por isso. Francamente!

O elevador chegou ao meu andar e eu me despedi com um leve sorriso.

– Boa tarde, seu Otávio. 

Preferi não comentar o assunto. Tinha tido um dia cheio e não estava muito para bate-papo com vizinhos. Mesmo sendo o agradável Seu Otávio. Mas aquele assunto me vinha à cabeça a todo instante. Como pode alguém não gostar de outro alguém, somente por não ter nascido no mesmo país, estado, bairro ou rua que ele?

O brasileiro costuma ter uma tolerância seletiva com estrangeiros. Durante muitos anos a imigração europeia foi incentivada no país. Via de regra, o brasileiro é muito receptivo com europeus e americanos e costuma torcer o nariz para haitianos, bolivianos, venezuelanos e demais imigrantes de países mais pobres que o nosso. Por quê? 

A xenofobia é a aversão preconceituosa a quem é estrangeiro.  De outra cidade, de outra região, de outro país e de outra cultura. Lembrei de alguns conhecidos acreanos que diziam “detestar bolivianos”. E de alguns cariocas bobalhões que achavam que quem não fosse do eixo Rio-São Paulo era atrasado. Conheço alguns cariocas que acham que são mais evoluídos do que os nordestinos, por exemplo. O que você acha disso? Existe xenofobia aceitável?

O que leva uma pessoa a detestar ou temer alguém, pelo simples fato desta pessoa não ter nascido em seu país? As causas da xenofobia são variadas. Ela pode ocorrer por questões econômicas, como acontece com relativa frequência nos Estados Unidos, França e outros países europeus, por questões culturais e religiosas, como ocorre nos países mulçumanos, por exemplo, ou pura e simplesmente por ignorância e pobreza de espírito.

Acredito que o que motiva e impulsiona qualquer tipo de discriminação, entre elas a xenofobia, é a falta de valores humanitários. E você, o que pensa sobre isso? O seu sentimento por alguém passa pelo local de nascimento deste? Pode alguém ser mais odiado ou amado pelo simples fato de ter nascido do outro lado da ponte?

Gostou deste artigo?

Facebook
Twitter
Linkedin
WhatsApp

© COPYRIGHT O ACRE AGORA.COM – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. SITE DESENVOLVIDO POR R&D – DESIGN GRÁFICO E WEB