Mistério das sementes revela a disputa de lojas virtuais na China

Há pouco mais de uma década, as lojinhas online chinesas, que operam nos mais variados marketplaces (plataformas de e-commerce que conectam lojistas com consumidores), como Mercado Livre e Amazon, passaram, além do mercado doméstico a explorar o mundo. Não é difícil imaginar que muitas delas tenham recorrido aos métodos de “fake marketing” que aprenderam no mercado doméstico… e é neste ponto que se insere o “mistério das sementes”.

Criar uma loja dentro de um marketplace estabelecido é simples e barato, mas isto equivale a abrir uma cafeteria secreta, quando, na verdade, os donos de cafés querem mesmo é estar em esquinas movimentadas.

A forma, digamos, convencional de atrair clientes, ou seja, tráfego, é rodar anúncios no Google, Facebook ou em portais de conteúdo, como este, que hospeda esta coluna.

A “aquisição de tráfego”, porém, é caríssima, o que faz 10 entre 10 e-commerces suarem sangue para obter “tráfego orgânico”, o que pode ser obtido com muita criatividade e esforço. Ou pelo caminho da picaretagem.

Por este último caminho, lojas autônomas, às escondidas dos marketplaces, conseguem via compras de bases de dados os nomes e endereços de muitos usuários reais e, então, enviam produtos não solicitados de baixo valor para eles.

O pulo do gato está no fato de a “conta” do “comprador” ser controlada pelo vendedor. Então, após a entrega do produto, o “comprador” que, na verdade é só uma conta fake do vendedor, vai lá e dá uma nota elevada pelo serviço, diz que a compra foi o máximo e que tal loja é incrível.

Ao colher muitos falsos reviews, o lojista sobe nos rankings de avaliação dentro dos marketplaces e melhoram sua posição até na busca orgânica do Google. Do ponto de vista do marketplace, tudo parece OK: um pacote, de fato, saiu da origem, chegou ao destino e o receptor disse que foi tudo ótimo. Só que não.

Os itens enviados, em geral, são sementes de plantas por estas serem leves, de baixo custo e não despertarem atenção nas máquinas de raio-X. Uma jogada simples —e desonesta— que eleva o nome da loja online e lhe garante o tão sonhado “tráfego orgânico”.

Com toda a publicidade midiática em torno das “sementes não solicitadas” é natural que o rigor das empresas de logística, serviços postais e dos marketplaces bloqueiem este método daqui para frente.

O engenho humano, no entanto, tratará de inventar outra maneira de burlar as regras do jogo, neste infinito jogo de gato e rato, entre os fraudadores e os serviços antifraudes.

Talvez seja um pouco decepcionante para os paranoicos, lunáticos e terraplanistas, mas as sementes que vocês receberam em casa não são parte de um plano malévolo do Partido Comunista da China. Era só algum mercador, em algum lugar do mundo, querendo fazer marketing de modo desonesto para sua lojinha.

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