Marcio Bittar é o senador do MDB que caiu nas graças de Bolsonaro

O senador Marcio Bittar (MDB-AC) se tornou uma das figuras de maior protagonismo do Congresso Nacional nestes últimos meses de 2020. O parlamentar é o relator do Orçamento Federal para o próximo ano e também de duas propostas de emenda à Constituição (PECs) vistas como fundamentais para o governo de Jair Bolsonaro, a chamada “PEC emergencial” e a que reorganiza o pacto federativo.

O destaque recebido por Bittar é, entre outros motivos, um reflexo do apoio pessoal dele ao governo Bolsonaro. Atualmente, mesmo filiado a um partido de centro, Bittar é um dos congressistas de maior alinhamento com o Palácio do Planalto.

“Eu sou um aliado incondicional do governo, do presidente Jair Bolsonaro e principalmente da linha econômica representada pelo ministro Paulo Guedes”, disse na última terça-feira (27), após deixar uma reunião no Ministério da Economia em que discutiu alternativas para o financiamento do Renda Brasil, programa que deve substituir o Bolsa Família e se tornar o principal projeto da área social do governo Bolsonaro.

Bittar é um dos vice-líderes do governo no Congresso e chegou a ter seu nome cogitado como um possível sucessor de Davi Alcolumbre (DEM-AP) na presidência do Senado. O parlamentar do Amapá não pode, pelas regras atuais, concorrer a um novo mandato no comando da Casa após o término do atual, que se encerra em fevereiro. Alcolumbre tem mobilizado a classe política e o Judiciário para conseguir autorização para uma nova candidatura. Se a mobilização for bem-sucedida, ele é favorito para a reeleição. Mas se a empreitada não vingar, Bittar é visto como uma alternativa. Ele traria consigo o respaldo do MDB, que tem a maior bancada do Senado, e também do Poder Executivo.

Adesão vai da cloroquina ao apoio a Eduardo embaixador, e desagrada o MDB

O alinhamento de Bittar com o Palácio do Planalto é correspondente ao “apoio incondicional” citado pelo parlamentar na entrevista recente. O senador tem replicado e incentivado grande parte das plataformas defendidas pelo presidente e seus apoiadores. E a gama de pautas sustentadas por Bittar não se restringe ao campo econômico.

No meio do ano, por exemplo, à época em que se discutia a realização dos chamados “protestos antidemocráticos” que contavam com a presença de Bolsonaro, Bittar foi às redes sociais para dizer que as manifestações eram pacíficas e que o presidente não poderia ser responsabilizado por eventuais “excessos” de manifestantes isolados. O senador endossou também a visão de Bolsonaro para o combate ao coronavírus — em julho, publicou no site AC 24Horas um artigo denominado “Por que não a hidroxicloroquina?”, referência ao medicamento alardeado pelo presidente como método de tratamento contra a Covid-19.

Bittar tem também grande alinhamento com o governo na pauta ambiental. O senador defende a realização de atividades de mineração em terras indígenas, bandeira cara a Bolsonaro. Bittar é também um cético do aquecimento global e, por mais de uma ocasião, declarou que os países da Europa não teriam autoridade para criticar a política ambiental do Brasil.

Marcio Bittar permaneceu ao lado de Bolsonaro até mesmo em dois episódios controversos para o presidente: a queda do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça, em abril, e a tentativa do presidente de nomear seu filho Eduardo como embaixador brasileiro nos EUA.

Após Moro deixar o governo, com acusações contra Bolsonaro, Bittar divulgou um vídeo dizendo que lamentava a decisão do ex-ministro e que não pararia de apoiar o presidente. E no ano passado, quando Bolsonaro apontou a ideia de fazer de Eduardo o embaixador do Brasil em Washington, Bittar declarou à Gazeta do Povo que considerava o filho do presidente apto para a função e que não via nepotismo na medida.

A proximidade entre Marcio Bittar e o governo é tanta que chega a desagradar a direção nacional do MDB, o partido do senador. Reportagem de setembro do jornal Valor Econômico mostrou que Bittar não encontrava respaldo de sua legenda para defender ideias do governo, como a extinção do piso de gastos em educação e saúde, por exemplo.”

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

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