Machucados que não cicatrizam, manchas brancas ou avermelhadas na língua, feridas recorrentes. Para a maioria das pessoas, esses sinais não parecem motivo de preocupação. Muitas vezes são atribuídos ao uso agressivo da escova, a uma afta comum ou até à irritação por alimentos quentes.
No entanto, em certos casos, essas lesões persistentes podem ser o primeiro alerta para o câncer de boca, um tumor que tem aumentado no Brasil e ainda é descoberto tardiamente em grande parte dos pacientes.
Quem está mais suscetível ao câncer de boca?
O câncer de boca pode atingir a língua, gengivas, bochechas, céu da boca, assoalho bucal e lábios. Ele é mais comum em homens, especialmente acima dos 40 anos, e está fortemente relacionado ao tabagismo e ao consumo excessivo de álcool.
Ainda assim, não está restrito a esses grupos. Casos em jovens vêm crescendo, principalmente devido ao vírus HPV, transmitido sexualmente, que também pode afetar a cavidade oral.
Por que o diagnóstico costuma ser tardio?
Um dos principais desafios é que esse tipo de câncer geralmente evolui de forma silenciosa. As lesões iniciais raramente provocam dor e, por isso, passam despercebidas. Quando os sintomas se tornam mais evidentes — dor, sangramento, dificuldade para falar ou engolir, mau hálito persistente — a doença já está em estágios avançados, exigindo tratamentos mais agressivos que podem comprometer funções importantes como a fala e a mastigação.
A importância de visitas regulares ao dentista é fundamental. O exame clínico da cavidade oral, realizado em consultas de rotina, permite ao profissional identificar alterações suspeitas ainda nas fases iniciais. Em caso de dúvida, o dentista pode encaminhar o paciente para uma biópsia simples, que confirma ou descarta o diagnóstico. Quando o câncer é diagnosticado cedo, o tratamento é muito mais eficaz, com maior chance de preservação funcional e estética.
Nos últimos anos, campanhas de saúde bucal vêm ampliando o olhar para além dos dentes e gengivas. O cuidado com a boca deve incluir também a observação dos tecidos moles e a valorização de sintomas sutis, mesmo na ausência de desconforto.
Outro aspecto importante é o autocuidado: observar-se no espelho com atenção, examinando a língua, o interior das bochechas e os lábios regularmente, pode ajudar a identificar alterações precoces. Qualquer lesão que não cicatrize em duas semanas, mesmo sem dor, precisa ser avaliada por um profissional.
O câncer de boca é evitável, tratável e, em muitos casos, curável — mas somente se for descoberto a tempo. Esse tempo começa com informação, acesso e a valorização da saúde bucal como parte integrante da saúde geral.
Se a sua boca é o que te conecta ao mundo — para falar, sorrir, comer, cantar, se expressar — cuidar dela é cuidar da sua identidade. E, muitas vezes, o primeiro passo para isso é uma simples ida ao dentista.
*Artigo escrito pelo radiologista Felipe Roth Vargas (CRM 155352 SP | RQE 94668), membro da Brazil Health
