Médicos que trabalham no pronto-socorro do Hospital das Forças Armadas (HFA), em Brasília, e tinham posição contrária à prescrição do “kit Covid” foram orientados a usar receitas pré-assinadas e carimbadas por outros profissionais para prescrever os medicamentos. A ideia era entregar as receitas, que estavam prontas antes mesmo dos pacientes serem consultados, para aqueles que fizessem questão de ser tratados com os remédios sem eficácia comprovada contra a doença.
Segundo a TV Globo, que obteve acesso a uma das prescrições, o documento já indicava o uso de hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina sem ter informações sobre um paciente específico.
Em resposta, o HFA disse que, no momento mais crítico da pandemia, os médicos puderam prescrever medicamentos por conta própria e que a autonomia desses profissionais foi respeitada. No entanto, a Associação Médica Brasileira (AMB) considera como infração ao código de ética o ato de preencher prescrições antes de atender o paciente.
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De acordo com a publicação, médicos da unidade relataram que a orientação partiu do chefe do pronto-socorro, major Milson Faria. “Resolvemos deixar uma pasta com estrutura de receita já carimbada e assinada, e junto uma pasta com termo de consentimento”, disse ele em uma troca de mensagens obtida pela reportagem. “Pedimos àqueles colegas que não prescrevem as referidas medicações, que caso não tenha nenhum colega no turno que também prescreva, que procure a sala de prescrição médica para entregar ao paciente, tendo somente que preencher o nome e a data”, acrescentou em outra mensagem.
O registro das conversas mostra que uma médica rebateu a ideia, ao dizer que não se sentia confortável em entregar uma receita com remédio que ela não recomenda e questionou qual o motivo de passar por um médico se o paciente receberia o kit de qualquer forma. Mas apesar desses questionamentos, médicos da unidade afirmam que as receitas pré-prontas foram distribuídas pelo menos até julho deste ano.