Desmatamento dispara na Amazônia em meio à pandemia

A pandemia se tornou uma cortina de fumaça para o avanço do desmatamento na Amazônia. Com os olhos do Brasil — e do mundo — voltados para a crise do coronavírus, madeireiros, garimpeiros e grileiros multiplicaram ações criminosas, aproveitando-se do momento para avançar sobre a floresta com motosserras e retroescavadeiras. Os alertas de áreas devastadas bateram o recorde no primeiro trimestre deste ano, totalizando 796 quilômetros quadrados, o que representa um aumento de 51% em relação ao mesmo período de 2019, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Informações preliminares mostram que aumentou ainda mais o ritmo de estragos entre março e abril, justamente quando boa parte do Brasil entrou em quarentena.

Enquanto a supressão da mata segue em ritmo acelerado, as ações de fiscalização e os autos de infração vêm caindo. Desmoralizado desde o ano passado pelo discurso de um governo que fala em incentivar a exploração em áreas protegidas, o Ibama sofreu um baque adicional com a Covid-19. Calcula-se que quase um terço do efetivo de seus profissionais de campo tenha sido afastado por pertencer a grupos de risco. Se não bastasse, as equipes que continuam em ação vêm encontrando dificuldades para atuar em certas regiões, como o Norte do país, porque algumas prefeituras determinaram que elas devem passar por um período de quarentena. O pretexto é de que isso evitaria trazer de fora para dentro a doença. Um completo absurdo, é claro, pois acaba com o efeito surpresa de quem está lá para fazer um flagrante. “Seria importante que vocês reavaliassem essa conduta (…). Talvez esperar passar esse período de pandemia”, argumentou o prefeito de Uruará, Gilson Brandão, em áudio obtido por VEJA, no último dia 20, a fiscais do Ibama, que haviam determinado a saída de invasores e a retirada de gado da terra indígena de Cachoeira Seca, no interior do Pará.

O estado foi palco de um caso que exemplifica bem a situação atual de descalabro. No início de abril, uma equipe do Ibama, com o apoio da Força Nacional, realizou uma megaoperação em reservas indígenas no sul do Pará — área onde o sistema identificou o maior território derrubado da floresta. Orientados por indígenas, os agentes flagraram, ao longo de duas semanas de investigação, serrarias, pontes e aeroportos clandestinos no meio da mata que deveria ser fechada, conforme relatório interno obtido por VEJA. Escondidos com galhos e folhas de árvores para escapar do radar dos helicópteros foram encontrados também tratores, galões de combustível e dezenas de armas. Depois, os fiscais incendiaram cerca de setenta equipamentos dos invasores, conforme manda a lei no caso de impossibilidade de realizar o transporte e a apreensão desses materiais.

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