De Matusalém a Jesus: a questão, minha senhora, nunca foi a idade!

No Acre desde 1999, muito já andei por este chão. E mais ainda aprendi com quem tem tanto a ensinar como com aqueles que relutam em saber. Uma das lições aprendidas é que a sabedoria pode residir onde a escolaridade jamais bateu à porta. A outra é que a fortuna, via de regra, tende a ser avessa à liberdade de expressão.

Ilustro com o seguinte exemplo: repórter de um site local, fui entrevistar pessoas nas ruas de Cruzeiro do Sul para anotar suas expectativas em relação ao novo prefeito. De um rico empresário, parente do governador Gladson Cameli, ouvi rasgados elogios ao gestor. Já de um simples vendedor ambulante, as censuras mais severas. O tempo mostrou quem estava com a razão.

Deste mesmo empresário, entrevistado de outra feita sobre as precárias condições da BR-364 – que inclusive lhe prejudicavam os negócios –, testemunhei um divertido contorcionismo retórico em seu esforço de não afrontar o governo do PT. Sobre o mesmo tema, a consultar as pessoas comuns, ouvi apenas críticas sinceras.

Ao contrário, porém, do que possa parecer, a dignidade nunca foi monopólio dos despossuídos. Tampouco a falta de escolaridade, um pré-requisito ao discernimento.

Nos grupos do aplicativo WhatsApp, por exemplo, vejo todos os dias uma ruma de pessoas que têm opinião sobre tudo. E quanto menos demonstram saber do que falam, maior o empenho em provar que estão certas. Também aprendi que é inútil tentar dissuadi-las.

O quarto grupo com que tenho me deparado ao longo dos anos é simplesmente deplorável. São os bajuladores de plantão, sempre pródigos em salamaleques e dispostos a tudo para agradar aos poderosos da vez.

Lembro-me, a propósito, de um almoço na casa de um deputado federal recém-eleito, que em dado momento passou a discorrer sobre um tema do qual já não recordo. A tudo que o anfitrião dizia, o outro, convidado como eu, concordava com a cabeça, sob o olhar cúmplice da mulher. Aqui e ali, o sujeito habilmente polvilhava o discurso alheio com a farinha da aprovação.

A certa altura, já enojado com tão descarada adulação, resolvi intervir, primeiro a discordar do deputado, e em seguida do seu apoiador. Tanto que insisti na divergência, que a esposa deste último não se segurou.

“Meu filho, o que você tem de idade, o meu marido tem de política!”.

Foi aí que me virei em sua direção, pra responder:

“Minha senhora, se idade fosse a questão, o principal personagem da Bíblia seria Matusalém, que viveu 969 anos, e não Jesus Cristo, morto aos 33”.         

O casal nunca mais me cumprimentou.

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