Em um cenário saturado por promessas de resultados rápidos, dietas que cortam grupos inteiros de alimentos continuam a circular com força — e a encantar quem busca uma solução imediata para emagrecer. Nas redes sociais, o discurso é sedutor: elimine os carboidratos e veja os números da balança despencarem. Antes disso, o inimigo da vez eram as gorduras. A lógica muda, mas o radicalismo permanece.
Especialistas, no entanto, seguem uníssonos em um ponto essencial: restrições alimentares extremas comprometem o bom funcionamento do corpo — e também da mente. “A retirada total de uma classe de alimentos compromete funções fisiológicas essenciais”, afirma o nutricionista Jean Lemos. Carboidratos, por exemplo, são a principal fonte de energia do cérebro. Sem eles, o resultado pode ser fadiga, constipação, perda de massa muscular e alterações cognitivas. Gorduras, por sua vez, são vitais para a produção hormonal, absorção de vitaminas e manutenção das membranas celulares.
Durante décadas, a gordura foi demonizada como culpada pela obesidade e pelas doenças cardiovasculares. O mercado respondeu com produtos “zero gordura”, que dominaram prateleiras e a mentalidade coletiva. Mas, nos anos 2000, veio a virada: surgiram as dietas low carb e a culpa passou a recair sobre os carboidratos, especialmente os refinados. Assim, uma nova onda de cortes radicais se instaurou — novamente, muitas vezes sem supervisão profissional.
O problema não está em reduzir, mas em eliminar. Além dos prejuízos físicos, dietas extremamente restritivas têm baixa adesão no longo prazo e abrem espaço para o efeito rebote, a perda de massa muscular e distúrbios comportamentais relacionados à alimentação. Para Lemos, “o emagrecimento sustentável depende de mudanças consistentes no estilo de vida, e não de estratégias radicais”.
As recomendações mais equilibradas sugerem que uma dieta saudável distribua os macronutrientes com certa flexibilidade: entre 40% a 60% de carboidratos, 10% a 35% de proteínas e 20% a 30% de gorduras. Claro, esses valores variam conforme idade, rotina, saúde e preferências individuais. Mais do que seguir números rígidos, trata-se de entender o que se está comendo — e por quê.
A qualidade também importa. O problema não está no arroz integral ou na batata-doce, mas no consumo excessivo de produtos ultraprocessados como biscoitos, pães brancos e doces industrializados. Com as gorduras, o raciocínio é semelhante: azeite, abacate, nozes e sementes oferecem benefícios; já frituras e alimentos com gordura trans devem ser evitados.
“Você não precisa viver rastreando cada grama de gordura ou carboidrato”, observa o nutrólogo Renato Lobo. “Se há porções equilibradas, fibras e uma fonte boa de proteína, você já tem uma dieta adequada. Para quem busca apenas saúde, não há necessidade de controle rigoroso.”
No fim, a mensagem é simples — e poderosa: em vez de excluir alimentos, talvez o caminho mais saudável seja incluir mais consciência no prato.
Fonte: CNN Brasil