Cameli repudia nota de Bispo e afirma que decreto será mantido

Ao que tudo indica, o governador do Acre, Gladson Cameli, não gostou nem um pouco da nota de repúdio escrita pelo bispo da Diocese de Rio Branco, Dom Joaquim Pertinez. No texto, o religioso se opôs ao decreto de isolamento social imposto ao comércio, igrejas e atividades consideradas não essenciais no estado, diante do avanço sem controle do coronavírus.

Segundo a nota de Dom Joaquim, ele recebeu a decisão com “estupor, indignação e impotência”, muito embora respeite a decisão governamental.

Na nota, o bispo afirma ainda que a culpa pelo avanço da pandemia é das aglomerações sem qualquer controle e fiscalização, o advento das eleições e festas natalinas e não das igrejas.

“Agora vamos terminar pagando “justos por pecadores”, como infelizmente acontece quando a incompetência, descaso e falta de responsabilidade acontece na vida do ser humano? É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens (At 5,29)”, escreveu Dom Joaquim.

Questionado sobre as declarações do religioso, Cameli respondeu que não está disposto a politizar o assunto e muito menos arriscar mais vidas.

“Sou católico e respeito a opinião do bispo. Mas ele, enquanto descendente de italianos, bem poderia relembrar o que aconteceu e acontece naquele país onde ele nasceu. Foram milhares de vidas perdidas. Aqui eu queria lembrar pra ele que temos um governo e eu, no que depender de mim, farei de tudo para não ver mais o sofrimento das pessoas e nem as famílias perdendo os seus entes queridos”, rebateu Cameli.

Gladson ressaltou ainda que o decreto não impede as igrejas de funcionar, apenas limita a 20% da sua capacidade.

Veja nota escrita pelo Bispo da Diocese:

BANDEIRA VERMELHA

Acabamos de receber o novo decreto estadual sobre a regressão à bandeira vermelha.

Com estupor, indignação e impotência, mas com o maior respeito, acatamos esse novo decreto e obedeceremos pelos princípios que norteiam e dão sentido à nossa vida cristã.

Mas, terminando de ler, vieram à mente as seguintes perguntas:

AGORA…

Depois que levamos meses sofrendo as consequências da pandemia que assola o mundo inteiro, parecendo que o que acontece em outros lugares do mundo não serve de lição e aprendizagem, como se nós fôssemos imunes a todo tipo de medidas para combater esse Inimigo invisível.

AGORA. .

Depois dos tempos de campanhas, festas natalinas, aglomerações sem as devidas medidas, e outras, quando os indicadores que eram publicados sobre contágios e óbitos, mostravam o caminho para chegar ao ponto que chegamos, e sem respeitar os decretos que foram publicados.

AGORA.

Depois da irresponsabilidade de tantos, sem uso de máscara, sem distanciamento social, sem respeitar a capacidade estabelecida em locais fechados, sem fiscalização, sem denúncias e punições, e muitos achando-se por cima do dever de cuidar da vida própria e alheia.

AGORA…???

Depois de ver e escutar que os interesses, econômicos e políticos estiveram durante todo este tempo acima da vida das pessoas, optando por priorizar a economia, acima das vidas humanas e, portanto, não salvaram a economia e, infelizmente, muitas vidas humanas foram ceifadas. AGORA…?

Agora vão tomar essas medidas, restringindo a liberdade a quem sempre respeitou todos os decretos, sacrificando muitas coisas na defesa da vida humana, por cima de qualquer outro tipo de Interesse humano?

Agora vamos terninar pagando “justos por pecadores”, como infelizmente acontece quando a Incompetência, descaso e falta de responsabilidade acontece na vida do ser humano?

“É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens” (At 5,29), falaram nossos antepassados, onde firmamos nossa fé. Mas, porque Deus nos manda cuidar da vida, tendo a fraterniidade como um dom de Deus, e o compromisso diante da sociedade, de “ver, sentir compaixão e cuidar do necessitado” (cf. LC 10, 33-34), assumimos essa missão com o compromisso profundo de cuidar da vida nas suas diversas dimensões: pessoal, comunitária, social e ecológica.

Mas, igualmente, gostaríamos e pedimos com toda nossa força, e em nome de Deus, que todos, nos diferentes níveis da nossa sociedade, também assumam esse mesmo compromisso, fazendo próprias as palavras daquele que veio trazer vida e vida em abundância para todos.

Obedeceremos, SIM, mais esse decreto, com obediência respeitosa, em favor da vida humana.

Portanto, neste período, não haverá missa com a presença de púbico, porque, para nós católicos, uma vida humana está acima de qualquer valor e não tem preço, seja humilde, poderoso, rico ou pobre, “A VIDA HUMANA ESTÁ ACIMA DE TUDO!”

Dom Joaquín Pertíñez — Bispo de Rio Branco

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