As quedas de Mandetta e Moro expõem as vísceras de um governo à deriva

Estamos vivenciando um momento muito difícil para o país. Não bastasse a crise sanitária sem precedentes, causada pela pandemia do novo coronavírus, a crise econômica, derivada entre outras coisas, também pelo maldito vírus e suas consequências, como o isolamento social, por exemplo, vivemos também uma gigantesca crise política. Causada exclusivamente pelas atitudes reativas, intempestivas e transloucadas do presidente Jair Messias Bolsonaro e seus “bambinos”. Uns filhinhos de papai com mandatos legitimamente conquistados. Portanto, com o aval de parte da população brasileira.

O ministro da Saúde, Henrique Mandetta, fora demitido por desobediência ao rei. Defendia ele, orientado pela ciência e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que o isolamento social era até então, a melhor maneira de adiar o pico do vírus malvado e com isso evitar um colapso no sistema de saúde do país. Como já estamos vendo ocorrer no Ceará, por exemplo. Aonde 100% dos leitos de UTI destinados a pacientes com covid-19 estão ocupados. Enquanto Mandetta lutava em favor da ciência, o presidente do Brasil desdenhava da doença, que naquele momento já tinha tirado a vida de aproximadamente 70 mil pessoas no planeta. Por aqui, nosso chefe maior do Estado, dava entrevista convocando os brasileiros ao trabalho e chamando a covid-19 de “gripezinha”. Além de diários passeios pelas ruas de Brasília, sem máscara, abraçando e sendo abraçado entre uma e outra coçada no nariz. Em um dia falou que sua caneta pesaria sobre os “insubordinados” e no outro demitiu o ministro.

Enquanto isso, seu bambino “02”, deputado federal por São Paulo, fazia o desfavor de arrumar uma crise diplomática com a China, ao acusa-la de ter escondido o vírus do mundo por semanas e que somente por conta disso o planeta padecia de tal sofrimento. O embaixador chinês reagiu imediatamente. Chamou o deputado de ignorante e exigiu retratação do Brasil. É claro que esta retratação nunca ocorreu. Dias após a China apresentou documento que sinalizava que o primeiro caso do coronavírus viera do Tio San. Por aqui o nosso presidente continuava com seus indefectíveis passeios populistas.

Nos últimos dias, a imprensa – tão criticada pelos seguidores do presidente- vinha anunciando a possibilidade do ministro da Justiça Sérgio Moro pedir demissão, por não aceitar interferência política na escolha do diretor geral da Polícia Federal. Enquanto isso, os fiéis e apaixonados seguidores do presidente, afirmavam ser “coisa da imprensa” e de gente que “torcia contra o Brasil”. Que o ministro/herói não sairia. Mas saiu! E saiu expondo graves crimes de conduta do ex-chefe. O maior e mais grave deles, o fato do presidente, usando da força de sua caneta, tentar interferir em investigações da PF, sobretudo àquela que citava o seu bambino. 

Moro acusou Bolsonaro de tentar trocar o diretor da PF, Valeixo, sem a sua concordância. E pior: sem o seu conhecimento. E para piorar o que já estava ruim, Bolsonaro publicou a exoneração no Diário Oficial com a assinatura de Moro e “a pedido”. Nem Moro assinou tampouco Valeixo pediu para sair. O ex-juiz começava ali a desmoronar a única bandeira que ainda sustentava Jair Bolsonaro: a da moralidade.

Poucas horas depois da entrevista bombástica de Moro, em um discurso desconexo, rodeado de ministros sem máscara de proteção (com exceção do Paulo Guedes), o presidente, como lhe é característico, contra-atacou. Falou que Moro mentia e que jamais teria interferido e nem pedido relatórios da PF. Fora isso, falou que seu “bambino 04” namorou metade do condomínio, que não usa o cartão coorporativo que tem direito e que mandou tirar o aquecedor da piscina do Palácio para economizar energia. No bom “acreanês”: só miolo de pote.

Desafiado pela “imprensa malvada” a apresentar provas das graves acusações que fizera contra o presidente e que este desmentira, Sergio Moro as apresentou. Mostrou conversa entre eles através de aplicativo, na qual Bolsonaro insistia na queda do diretor da PF entre outras coisas, por causa de uma investigação incômoda para dez deputados “bolsonaristas”. E com isso fez ruir o único pilar que ainda sustentava o presidente do Brasil. Expôs de forma tão cristalina que até os cegos conseguiram enxergar, as vísceras de um governo a deriva.

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