A urgência da Ética contra oportunismo e emoções que alimentam o caos

É perceptível que a atual crise humanitária não está sendo enfrentada da melhor forma possível em nosso país. Os posicionamentos em conflito sobre como conduzi-la fogem do âmbito democrático e civilizatório. Emoções destrutivas e artimanhas oportunistas compõem o cenário, piorando a situação caótica. Faz-se necessário visitar uma velha conhecida esquecida no asilo por não fazer parte da dinâmica desses tempos.

A ética é uma criação humana, na sua origem grega flertava com a moral (de origem romana) como alma gêmea, mas sua característica marcante se mostrou exatamente na diferença. Enquanto a moral diz respeito a costumes e normas com força de lei (não escrita), ao longo da história humana, a ética se destacou como “legisladora” desses costumes, de condutas, da cultura dos povos.

Mas essa diferenciação e singularidade da ética não ocorreu de forma rápida ou instantânea. Durante toda a antiguidade e idade média o seu desenvolvimento esbarrava em determinismos sobre o que é bom, belo, mau, ruim, verdade, certo e errado, advindos dos próprios costumes, das religiões, da epistemologia do conhecimento, e da forma de ver o humano como racional por excelência.

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Até que, no final do século XIX, um filósofo intrigante questionou os conceitos de bom, mal e ruim, afirmando que eles foram uma construção histórica a serviço de quem detinha o poder nas mãos (riquezas, posições privilegiadas e erudição); uma forma eficiente de legitimar seus atos e estatutos que colocavam outras populações (no sentido amplo) em sofrimento. Um caso emblemático é o costume ancestral de arrancar o clitóris de mulheres de grupos africanos e mulçumanos.

Com essa revelação, a ética se afirmava como disciplina humana fundamental para rever as formas de organização social, os pensamentos e costumes de cada povo, questionar os males coletivos e individuais tidos como normais.

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Na democracia, ou melhor, na era da informação que produziu a própria subjetividade humana, o atentado à ética (antiética) se apresenta, nem sempre, com alguma sutileza, pois precisa gerar convencimento ou empatia. Assim, com olhar atento percebemos esses atos quando a imprensa extrapola sua função de informar e apela para sensacionalismo, meias verdades para obter maior audiência; nos políticos que usam a situação caótica para atos indignos ou oportunistas, acordos de benefício próprio e prejudiciais à população; nas empresas que se aproveitam da necessidade da população por alguns produtos e serviços com aumento de preço abusivos; nos estelionatários travestidos de líderes religiosos que enganam os fiéis com ilusões grotescas.

No começo do século XX, foi a vez de um médico talentoso, interessado nos processos psicológicos, fazer um achado estrondoso: os humanos não se movem pelo consciente, mas pelo inconsciente, que é carregado de conteúdos emocionais. Isso desmontou a visão do homem racional/consciente construída e consolidada por dois mil anos. Os impulsos, os desejos, os traumas, o que está fora da consciência, influenciam predominantemente o comportamento dos humanos. Assim, um constante conflito entre certos desejos e bem estar coletivo se apresenta e incomoda o humano a ponto de buscar (inconscientemente) a decadência, a morte e a guerra como saída. A ética mais uma vez ganha importância suprema para questionar e intervir nessas necessidades mentais destrutivas.

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O cidadão que produz ou reproduz informações claramente danosas a si mesmo e aos demais, ou incita a violência (das diversas formas) contra a própria espécie; os que se fecham em ilusão, seguindo e defendendo ideias ou pessoas cegamente, abdicando da realidade concreta, por uma satisfação danosa.

A ética precisa se tornar algo intrínseco ao humano, uma força tão forte que anule ou combata incessantemente qualquer querer prejudicial para o coletivo ou para o indivíduo. Isso é possível com algum esforço e incômodo, com a reflexão crítica e humanitária do que ocorre ao redor; com olhar atento sobre nossas emoções e atos, e suas consequências; e com o hábito desses exercícios, algo que fortalece e motiva outros mais.

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