A humanidade está em uma encruzilhada, vamos rezar que tenhamos sabedoria

A cidade amanheceu adormecida, em silêncio, vazia… triste. Avenidas que normalmente ficam cheias às sete e meia da manhã estão sem movimento, lojas fechadas e pessoas com caras de assustadas. Ninguém mais se cumprimenta. O vizinho pode estar infectado, fuja dele. Não leve as crianças na casa dos avós – e se for inevitável, que não as deixem beijá-los. Se tiver que sair à rua que seja breve e ao chegar, roupa no cesto e banho imediatamente. Nem pense em beijar os filhos. Não chegue nem perto. Socorro! O mundo está mudando. E não é para melhor.

Muitas dessas mudanças serão temporárias, é certo. Mas assim como outras doenças ao longo da história, o coronavírus deixará efeitos e cicatrizes por muitas décadas ou séculos. Estima-se que a peste bubônica (praga que atingiu a Europa por volta de 1350) tenha matado um terço da população do continente. A gripe espanhola tirou a vida de aproximadamente 40 milhões de pessoas. Estima-se que a pandemia tenha afetado direta ou indiretamente cerca de 50% da população mundial.

Sabe o “velho e bom” tacacá no final da tarde ou a roda de tereré? Esqueça! Seus amigos podem representar perigo iminente e letal. A sorveteria não abre mais e nos supermercados estão todos de máscaras. Escolas e clubes estão fechados e a criançada presa dentro em casa. Ligo a TV e ouço a nova contabilidade de mortos mundo afora. O que mais eu queria neste momento é dar aquele forte e apertado abraço no meu velho pai. Nem pensar! Eu posso matá-lo.

Xapuri-AC / Foto: internet

A varíola assolou a humanidade por muito tempo. Foi erradicada do planeta em 1980 graças a uma grande campanha mundial de vacinação. A doença, entre 1896 e a sua erradicação, matou cerca de 300 milhões de pessoas no mundo.

A ciência e o bom senso me ordenam permanecer em casa. O mercado e o estômago me lembram que tenho que ir. O bar da esquina também baixou as portas e cerveja agora é solitária e amarga. O tira-gosto ficou insosso. Da janela do apartamento não mais ouço a gritaria dos meninos no play e nem as buzinas valentes dos raivosos e apressados motoqueiros de aplicativos. De vez em quando passa um carro. Um novo boletim do Ministério da Saúde acaba de sair, preciso ir. Tenho que contabilizar os mortos para não perder a conta. Meu Deus do céu, o que é isso que estamos vivendo?

Veneza-Itália / Foto: internet

Acredita-se que a cólera foi a primeira epidemia que atingiu todos os continentes do planeta. A bactéria causadora da doença provoca intensa diarreia, que pode levar o portador à morte por desidratação. Estima-se que aproximadamente120 mil pessoas morrem todos os anos devido à doença, que poderia ser erradicada com vacinação e saneamento básico universal.

A televisão nos mostra diariamente pessoas desesperadas pela falta de comida e outras morrendo pelo maldito vírus. Os dias de isolamento social já começam a traçar um duro paralelo com as necessidades básicas. Em uma reta é preciso resguardar-se para proteger os idosos e portadores de comorbidades. Na outra, a mesa vazia me encoraja a ir em busca da subsistência.  Essa loucura de pensamentos e a triste realidade das ruas desertas no mundo todo, me fizeram lembrar uma frase do cineasta Woody Allen com a qual encerro de maneira triste e confusa o artigo desta semana: “Mais do que em qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto. O outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher”.

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