Se tem algo que não falta na política acreana é entusiasmo descolado da realidade — e a sessão desta quarta-feira (1º), na Câmara Municipal de Rio Branco, foi uma aula prática disso. No meio de um vácuo de nomes competitivos para a disputa ao governo do Acre em 2026, vereadores do MDB decidiram ressuscitar uma figura que, politicamente, encolheu com o tempo: Eber Machado.
Sim, ele mesmo — o ex-deputado estadual que virou vereador da capital e que, até aqui, não demonstrou nenhum fôlego eleitoral que justifique planos mais ambiciosos. Neném Almeida (MDB), porém, anunciou seu nome com a convicção de quem apresenta um trunfo eleitoral. “Meu candidato a governador é o vereador que mais se destaca nesta Casa: Eber Machado”, proclamou.
O curioso é que, meses atrás, o “peso político” de Machado voltou aos holofotes não por alguma jogada estratégica, mas por uma greve de fome — daquelas relâmpago. O protesto — anunciado em maio deste ano — contra a transferência do Centro Pop durou apenas 24 horas, interrompido por “limitações de saúde”. Eber não perdeu peso e, muito menos, ganhou prestígio. Saiu do episódio com a cara de tacho rechonchudo.
Neném Almeida justificou sua defesa citando nomes históricos do MDB no Acre, como Flaviano Melo, Wagner Salles e Chagas Romão, além de lembrar que o partido foi a terceira força mais votada no estado nas eleições de 2022. Eber, por sua vez, aproveitou para exaltar a relevância histórica da legenda, citando a criação da Fundação Hospitalar e programas habitacionais, e afirmou estar “preparado” para ser candidato, garantindo que faria “melhor que Gladson e Bocalom”.
A cena ganha contornos ainda mais pitorescos se lembrarmos que, nos bastidores, o MDB ensaia apoiar ninguém menos que a atual vice-governadora Mailza Assis (PP), pré-candidata ao governo. Ou seja, enquanto parte do partido acena pragmaticamente para o grupo governista, vereadores fazem discursos heroicos lançando nomes sem tração eleitoral para uma corrida que promete ser dura.
Entre a retórica de plenário e a matemática das urnas, há um abismo. E nele, o nome de Eber Machado parece mais um eco do passado do que uma aposta real para o futuro.