Valter Arauto voltou às manchetes nesta segunda-feira (8) com mais uma de suas visões apocalípticas. Segundo ele, um “surto muito grande de raiva animal, começando por morcegos”, ameaçaria até a ministra Marina Silva. A recomendação do profeta? “Fechem as portas do Chandless.” A mais nova peça de uma coleção de catástrofes que só existem na sua imaginação.

Mas essa não foi a primeira vez que Arauto enxergou o futuro com lentes de aumento.

Em janeiro de 2025, garantiu que uma nuvem bíblica de gafanhotos devastaria a agricultura acreana. Até agora, só gafanhotos comuns, daqueles que qualquer lavoura conhece de perto. Pouco depois, cravou que um morador de Rio Branco se tornaria milionário da Lotofácil. O bilhete premiado segue perdido — talvez em outra dimensão.

Mais tarde, em junho, resolveu mirar nas estrelas: anunciou que o primeiro “contato de quinto grau” com extraterrestres aconteceria em Tarauacá, colocando o Acre no mapa do cosmos. Até agora, o único contato mantido por lá continua sendo entre faccionados e seus comparsas do outro lado da fronteira, no Peru, de onde vem a droga que abastece o pequeno mercado local.

Voltando a dezembro de 2024, proclamou que 2025 seria o “ano das águas”, com enchentes devastadoras. O Rio Acre até encheu, mas nada além do que se repete ano após ano. No mesmo pacote, falou em um “apagão tecnológico” — desses que fariam a internet desaparecer. Sim, a luz realmente apagou no domingo retrasado, mas foi só mais um episódio da Energisa, não da bola de cristal.

Em outubro de 2024, foi a vez de Porto Walter entrar no mapa das desgraças: anunciou um terremoto de grandes proporções, precedido por halos no sol e granizo. A cidade segue intacta.

Já em 2023, Arauto produziu um festival de previsões. Em março, disse que um tremor de magnitude 8 na Bolívia abalaria o Acre inteiro. Nada. Em maio, voltou à carga: alertou para um terremoto no Peru que seria sentido em Rio Branco e, de quebra, garantiu que o presidente Lula seria sequestrado. Não foi. Em setembro, inovou: garantiu que o Programa do Ratinho no SBT estava com os dias contados e que o apresentador migraria para a Record. Ratinho segue firme, gritando no mesmo canal.

E os fiascos não se limitam a política, economia ou desastres naturais. Em 2018, quando a acreana Gleici Damasceno disputava o Big Brother Brasil, Arauto cravou que ela ficaria em segundo lugar. O país inteiro acompanhou o contrário: Gleici foi campeã do reality.

E, para provar que também entende do mercado, em 2025 anunciou que o Grupo Metrópoles compraria a RedeTV!. Um negócio inexistente, mas útil para render manchetes.

De volta ao “surto de raiva” previsto para se espalhar pelo Acre a partir do Chandless, a probabilidade é de que ele se restrinja aos incautos que ainda acreditam no visionário.

Afinal, o histórico não deixa dúvidas. Em cada previsão de Valter Arauto há sempre um detalhe grandioso, uma tragédia iminente, um espetáculo cósmico. Só falta um ingrediente: acontecer.

A única profecia que nunca falha é a mesma, ano após ano: Arauto vai anunciar um desastre. E ele vai errar.