O Senado deverá votar na terça-feira (30) moção de repúdio e censura apresentada pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES) ao assessor internacional do presidente Jair Bolsonaro, Filipe Martins. Na quarta-feira (24), Martins fez um sinal com as mãos considerado ofensivo pelos senadores, durante sessão temática remota que debatia as dificuldades enfrentadas pelo Brasil para a aquisição de vacinas. O gesto do assessor reproduz um dos símbolos de ódio utilizados por grupos de extrema direita e supremacistas brancos dos EUA.
O requerimento de Contarato foi lido nesta quinta-feira (25), mas não foi votado devido à realização de sessão do Congresso que debatia a aprovação do Orçamento de 2021. Como a iniciativa é de autoria do Senado, o requerimento precisa ser votado em sessão ordinária da Casa.
O sinal feito por Filipe Martins foi denunciado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que alertou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, sobre a ocorrência. Martins estava acompanhando o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, na sala de transmissão da sessão. O ministro havia sido chamado para falar das ações da pasta na compra de vacinas contra o coronavírus. O assessor permaneceu na sala até o fim do debate, embora Randolfe Rodrigues tenha solicitado a expulsão de Martins das dependências da Casa.
Após o debate, Rodrigo Pacheco determinou à Secretaria Geral da Mesa que apure o gesto feito por Filipe Martins. As informações colhidas serão encaminhadas à Policia Legislativa do Senado. Por meio de uma rede social, ele disse que estava somente ajeitando a lapela do terno.
Em seu requerimento de repúdio e censura, Contarato considera o comportamento de Martins inadequado e desrespeitoso, e disse que o gesto feito pelo assessor tem sido replicado por grupos de extrema direita por todo o mundo. O requerimento foi lido na tarde desta quinta
— O ato é grave, justamente na sessão que buscava resposta para as dificuldades de o Brasil obter vacinas na escalada da maior crise sanitária do país — afirmou.
Contarato disse que Bolsonaro e Ernesto Araújo são responsáveis diretos pela criação de atritos diplomáticos e pela política de genocídio presente no atual governo, que denota desprezo pelos Poderes constituídos, pela República e pelo Legislativo, o que apontaria para a urgência da exoneração de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores.
Líder do governo, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) observou que o resultado das investigações da Mesa do Senado já deverá ser de conhecimento público até a votação do requerimento.
Para o senador Paulo Rocha (PT-PA), “ficou claro para todo mundo que o rapaz estava fazendo sinalizações com simbologia que, por coincidência ou não, era similar à praticada durante a invasão do Capitólio, nos EUA”, e sua investigação é fundamental para fazer valer a autoridade do Senado.
O senador Jacques Wagner (PT-BA), por sua vez, disse que Martins é um “marginal, um meliante travestido de assessor, autor de gestos indecorosos, de intolerância, de tese atualmente ultrapassada”. O senador disse que o gesto representa uma afronta ao Senado, à nação brasileira e ao presidente da Casa, que àquela altura comandava a sessão temática.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)