Li pelo menos dois artigos, uma dezena de comentários e assisti a um vídeo em defesa do governador Gladson Cameli, alvo da Polícia Federal na Operação Ptolomeu. Grosso modo, o argumento dos seus defensores é um só: Gladson é inocente porque sua família é rica, e ricos não necessitam roubar.
O raciocínio inverso, portanto, é que todo pobre seria um vigarista em potencial justo pela imposição das necessidades. Se ricos não subtraem nada alheio por já ter o suficiente para viver, os mais pobres seriam inclinados à rapinagem por lhes faltar o essencial.
Trata-se, óbvio, do mais cretino dos argumentos. A fortuna não passa atestado de probidade a ninguém. Assim como pobreza nunca foi sinônimo de malandragem. Há pobres honestos e ricos sem-vergonha – e vice-versa.
Quem já ouviu falar no ‘banqueiro dos pobres’ (veja aqui) sabe que a experiência de conceder microcrédito a pessoas que não tinham acesso ao sistema bancário convencional virou um sucesso primeiro na Índia, de onde foi replicada em diversos países. E revelou que os mais pobres são bons pagadores.
No Brasil, em contrapartida, temos exemplos aos montes de empresários, banqueiros, empreiteiros e políticos afortunados que se dedicam a exaurir as riquezas públicas em proveito pessoal.
Não se trata de antecipar juízo sobre a participação ou não do governador Gladson Cameli nos crimes que lhes são imputados pela Polícia Federal.
Mas tão-somente de alertar os seus defensores para o sofisma que andam a espalhar como se nós, além de pobres, fôssemos também idiotas.