Se estiver caro, não compra? A lição histórica dos brioches

A história está repleta de frases proferidas por líderes que, diante das dificuldades do povo, soam como desconectadas da realidade. Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reacendeu esse debate ao afirmar: “Se estiver caro, não compra”, em resposta a questionamentos sobre o aumento nos preços dos alimentos.

A declaração logo foi comparada a uma das mais famosas — e controversas — frases da história: “Que comam brioches”. A frase é frequentemente atribuída à rainha Maria Antonieta, esposa do rei Luís XVI, durante a crise de fome que antecedeu a Revolução Francesa. Segundo a lenda, ao ser informada de que o povo não tinha pão, ela teria sugerido que comessem brioche, um pão enriquecido com manteiga e ovos, inacessível para a maioria da população. Embora historiadores questionem a autenticidade da citação, seu impacto simbólico permanece poderoso.

Assim como as palavras de Maria Antonieta foram interpretadas como sinal de insensibilidade, a fala de Lula provocou reações imediatas. Para muitos, sugerir que o consumidor simplesmente não adquira produtos caros ignora as limitações daqueles que já lutam para garantir o básico. Em um país onde a insegurança alimentar afeta milhões, a recomendação parece tão distante da realidade quanto o brioche para os camponeses franceses do século XVIII.

O contexto, no entanto, diferencia as duas situações. Maria Antonieta, cercada pelo luxo da corte de Versalhes, vivia isolada das privações populares. Lula, por sua trajetória de origem humilde, conhece as dificuldades enfrentadas pelos brasileiros, ainda que tenha se isolado delas e agora viva no luxo e alheio às privações daqueles que governa. Ainda assim, ambos os comentários revelam como a distância entre governantes e governados pode se manifestar em momentos de crise.

Na França revolucionária, a insatisfação popular culminou na queda da monarquia e na execução de Maria Antonieta em 1793, sob a lâmina da guilhotina. No Brasil atual, as repercussões são políticas, refletidas em debates acalorados nas redes sociais e na oposição crescente ao governo.

Mais do que frases infelizes, esses episódios mostram como o poder, quando desconectado das dificuldades cotidianas, corre o risco de alienar aqueles que deveria representar. Se a história ensina algo, é que ignorar o preço do pão — ou de qualquer outro bem essencial — pode custar caro, tanto para quem compra quanto para quem governa.

*Amaro Alves foi repórter de polícia até se aposentar, em 2009; vive atualmente em Belém (PA), de onde escreve com exclusividade para oacreagora.com

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