Essa semana comecei um novo desafio na minha vida: ser professor de alunos do ensino médio.
Como tantas aleatoriedades que rondam meus dias — de entregador a recepcionista bilíngue, de supervisor de call center a dono de gastrobar — já preenchi duas carteiras de trabalho com experiências das mais diversas. Não me orgulho exatamente disso, mas sempre fui fascinado pelo novo e pela perspectiva de crescimento.
Minha trajetória, aliás, lembra uma linha de eletrocardiograma: sobe, desce, recomeça… sempre em movimento. Mas deixo esse tema para outra conversa.
Falar em público, dar palestras, treinar e desenvolver equipes já era parte da minha rotina há anos. Lidar com adultos sem energia, carregando bagagens cheias de conceitos e vivências, que muitas vezes só precisam de uma palavra de motivação ou do direcionamento certo… é relativamente simples.
Mas encarar adolescentes de 15 a 18 anos — com a cabeça cheia de dúvidas, quase nada de certezas e energia de sobra — me assustou. Eles não precisam do café dos adultos, nem da cervejinha do pós-expediente. Estão ali, inquietos, apenas esperando a sirene tocar para irem embora. Como falar sobre administração, logística e suas ramificações para quem parece estar em outro universo?
Esse turbilhão de sensações me transportou direto para os meus 16 anos. Lembrei daquele aspirante à jornalista que, cheio de sonhos e expectativas, chegou à faculdade aos 17 e se frustrou logo nos primeiros períodos. Percebeu que não era bem aquilo que imaginava. Então, migrou para a administração, tornou-se tecnólogo em logística, flertou com a licenciatura em História e, agora, está aqui… como professor.
Percebi que o que essa galera precisa não é de alguém que os trate como crianças ou como apenas mais um número na chamada. Eles precisam de alguém que compartilhe a vida real — com erros, recomeços e aprendizados que também nos fizeram felizes.
Li os sonhos deles nas primeiras redações que pedi: querem ser médicos, advogados, empresários, pilotos de Fórmula 1… E tudo bem se esses sonhos mudarem. O importante é que, onde quer que estejam no futuro, sejam tão felizes quanto imaginavam ser ao responder aquela velha pergunta: “O que você quer ser quando crescer?” — mesmo que a resposta mude ao longo do caminho.