
Rogério Avelino da Silva, mais conhecido como Rogério 157, nasceu em Governador Valadares, Minas Gerais, e se tornou um dos nomes mais temidos do crime organizado no Rio de Janeiro. A trajetória dele sintetiza a forma como o tráfico de drogas se estruturou nas últimas décadas: poder territorial, lealdades instáveis, guerras internas e uma relação de domínio sobre comunidades inteiras.
Durante os primeiros anos no crime, Rogério atuou como segurança pessoal de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, antigo chefe da maior favela da Zona Sul carioca. A proximidade com Nem lhe deu acesso direto à cúpula da facção Amigos dos Amigos (ADA) e permitiu que ele compreendesse a lógica do poder dentro das comunidades. Quando Nem foi preso, em 2011, Rogério viu ali uma oportunidade.
Com o passar dos anos, ele passou de homem de confiança a rival. Rompeu com antigos aliados, aproximou-se do Comando Vermelho (CV) e começou a articular o controle da Rocinha por conta própria. O ano de 2017 marcou o auge e o colapso de sua carreira criminosa. Nesse período, a favela se tornou palco de intensos confrontos entre facções, com tiroteios diários, bloqueios de acesso e o medo transformado em rotina. A disputa era pelo controle de um dos territórios mais lucrativos do tráfico na cidade.
Rogério 157 consolidou seu poder explorando o mesmo modelo que transformou o tráfico em uma espécie de “governo paralelo”. Sob seu comando, a Rocinha passou a ter cobranças de taxas sobre serviços, mototáxis, venda de gás e até pequenos comércios. O domínio sobre o território garantia renda, proteção e uma rede de informantes. O Estado, mais uma vez, assistia a tudo de fora — intervindo apenas quando a guerra entre facções ultrapassava os limites da comunidade.
Em dezembro de 2017, após meses de caçada, Rogério foi capturado em uma operação que envolveu centenas de policiais e cercou várias comunidades do Rio. A prisão dele foi tratada como um troféu pelo governo estadual. As imagens da captura correram o país, e o rosto de Rogério virou símbolo de uma guerra que o próprio Estado parecia não conseguir vencer.
Condenado a 64 anos de prisão por triplo homicídio, tráfico e associação criminosa, Rogério cumpre pena em regime fechado num presídio federal de segurança máxima. A transferência para fora do Rio teve um objetivo claro: cortar os laços com a estrutura criminosa da Rocinha e impedir que continuasse comandando o tráfico de dentro da prisão — algo que, em muitos casos, as autoridades nunca conseguiram evitar por completo.
O caso de Rogério 157 é mais do que o retrato de um criminoso. É um espelho da dinâmica que molda as favelas cariocas há décadas: o vácuo deixado pelo poder público, a ascensão de lideranças locais que se tornam “autoridades” pela força, e a perpetuação de um sistema que se renova a cada prisão. A queda de um chefe raramente significa o fim do império — apenas a troca de comando.
*Amaro Alves foi repórter de polícia até se aposentar, em 2009; vive atualmente em Belém (PA), de onde escreve com exclusividade para oacreagora.com