Rodrigo Farias escreve: Zico, o galo rei de uma nação 

Os bares da Tijuca, no entorno do Maracanã, em dias de jogos do Flamengo se transformam em uma espécie de extensão do estádio. Sempre lotados de flamenguistas assistindo ao jogo e cantando as músicas entoadas na arquibancada. Não é de surpreender quando se sabe que 48,2%, dos quase 7 milhões de moradores do Rio de Janeiro torcem pelo rubro-negro. Quase metade do Rio é flamenguista.

O bar do seu Zé, na rua Pinto de Figueiredo, em dias de final já era tradição… chope da Brahma, porção de azeitonas pretas e aquele clima natural de tensão que precede uma decisão do Clube de Regatas do Flamengo, o clube que apresentou Arthur Antunes Coimbra ao mundo. Ou terá sido o contrário? 

Nascia em 3 de março de 1953, no subúrbio carioca de Quintino, aquele que iria mudar a minha vida. Não só a minha, mas a de milhões de brasileiros. Estima-se que o rubro-negro carioca tenha uma torcida de aproximadamente 44 milhões de pessoas. Certamente a minha infância e adolescência foram mais felizes, em grande parte, por conta do Galinho de Quintino, o camisa 10 da Gávea. O único camisa 10 da Gávea!

Na seleção brasileira, Zico também reinou. Embora tenha jogado a copa de 1078, foi nas duas seguintes, 1982 e 1986, que ele vestiu a camisa 10 canarinho e comandou um elenco recheado de craques. Na de 1978 o Galinho jogou com a número 11. Mas se tratando de Seleção Brasileira, alguns tolos preferem lembrar do pênalti perdido contra a França, nas quartas de final da Copa do México em 1986, do que das inúmeras alegrias que ele nos proporcionou. 

Muitos craques e ídolos de diversos clubes mundo afora reverenciam o Galinho de Quintino, mas dois merecem destaque especial: Roberto Dinamite e Pelé. O primeiro por ser o maior ídolo do arquirrival Vasco da Gama, além de grande craque. O segundo dispensa comentários.

“O Zico, para mim, é o maior jogador da minha geração, tenho o maior respeito por ele, começamos juntos, nas divisões de base, os pais dele iam vê-lo jogar contra mim, assim como os meus pais iam me ver jogar contra ele. Sempre tive muito carinho por ele”, disse o maior artilheiro da história do clube cruzmaltino.

Já o rei Pelé, ao ser perguntado em uma entrevista quem seria o “seu príncipe” no futebol mundial, após pensar breves segundos disparou: o Zico!

No dia 2 de junho de 1983, apenas quatro dias após o maior público da história do Campeonato Brasileiro assistir a mais um título do Flamengo, Zico desembarcava no aeroporto internacional do Galeão. Ao pisar o saguão, após representar uma seleção mundial no jogo de despedida do alemão Breitner, um jornalista mostrou a ele a capa do jornal O Globo: “Zico vendido à Itália”. O Rio de Janeiro amanhecera sob o impacto de uma bomba que soterrou a alegria de milhões de brasileiros, sobretudo os rubro-negros. Um dos fatos mais marcantes do futebol brasileiro foi a volta do Zico ao Flamengo em 1985, após conquistar o país da bota com o seu talento. 

Zico foi jogar no Japão em 1991, para defender as cores do Kashima Antlers, onde ficou até 1994, ano em que encerrou sua vitoriosa carreira. Em pouco tempo, ele transformou um esporte pouco falado ou assistido no país em uma modalidade definitivamente profissional. O Galinho tem duas estátuas em sua homenagem no país nipônico. A primeira, no Kashima Soccer Museum, localizado dentro do estádio; o segundo monumento fica dentro de um shopping na cidade de Kashima.

Ainda hoje, quase trinta anos após pendurar as chuteiras, o eterno e imortal Galinho de Quintino escuta, toda vez que vai assistir a algum jogo do Flamengo no Maracanã, gritos alucinados, em sua maioria de pessoas que sequer o viram em atuação, de “Ei… ei… ei… o Zico é o nosso rei”.

Artur Antunes Coimbra, ou simplesmente Zico… O galo rei de uma nação inteira.

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