– Roberto, por favor, a saideira e a conta.
A fala acima explicita três hábitos que carrego comigo há um bocado de anos: frequentar e ser apaixonado por botequim, quanto mais raiz melhor, sempre perguntar o nome do garçom, para evitar o deselegante “psiu” e pedir a saideira junto à conta, para não passar por todo o processo de conferência da fatura e pagamento da mesma de “bico seco”. Enquanto a conta vem e a pago, o faço “molhando as palavras”. Às vezes finalizando um bom papo. Nessas ocasiões, a saideira pode se transformar em saideiras, duas…oito…doze…
– Roberto, reabre a conta, por favor!
Se você é um inveterado frequentador de boteco como eu, confesse que gostou da ideia. O doloroso processo de pagamento da fatura, (não pelos tostões gastos; na maioria das vezes é um dinheiro que torro com prazer), mas sim pela despedida, não precisa, e nem deve, ser realizado sem bebericar a última cerveja da noite – ou dia, conforme a sua preferência etílica, matutina, vespertina ou noturna. Eu bebo em qualquer horário, sem preconceitos.
O poeta lírico Vinicius de Morais dizia que “o whisky é o cão engarrafado”, em uma analogia com o dito popular de que o cachorro é o melhor amigo do homem. Eu, audacioso que sou, ouso complementar a frase do poetinha, como era carinhosamente chamado. Se o whisky é o cão engarrafado, um bom chopp Brahma é a matilha reunida.
Na canção Mesa de Bar, de Gonzaguinha, imortalizada pela Marrom Alcione em parceria com Ed Mota, diz que
“Mesa de bar
É lugar para tudo que é papo da vida rolar…
Do futebol, até a danada da tal da inflação…
É coração, fantasia e realidade…
É um ideal paraíso adonde nós fica à vontade…”
E é exatamente isso que esta coluna irá contar nas próximas semanas, nos próximos 15 textos: conversas e causos de botequim. Local onde se “encosta” para tomar duas após um dia exaustivo de trabalho, ou mesmo somente para espantar o calor. É no bar onde debatemos, com amigos ou com o desconhecido da mesa ao lado, um pouco sobre tudo. A cada rodada um tema: inflação, futebol, música, literatura, trabalho… enfim, onde contamos casos e damos gargalhadas. Às vezes, ele também serve, para alguns, como divã. O psicanalista? O amigo de infância, o recém-conhecido ou até mesmo o Roberto, o garçom, não o rei Roberto Carlos, embora bebericar ouvindo as canções do rei seja um raro prazer.
Histórias vividas nessas três décadas como um assíduo frequentador de botequins, outras que apenas ouvi da mesa ao lado e, também, algumas inventadas, porque nenhum causo de bar é 100% verdadeiro, principalmente depois de algumas doses.
Um brinde a nós!