Ricos focam em ações conservadoras e ETFs de renda fixa

Com a bolsa brasileira amargando perdas mês a mês enquanto a nova trajetória de alta da Selic ganha força, os investidores ficam cada vez mais conservadores. Inclusive os endinheirados. Segundo o levantamento mensal da Smartbrain, além de a maior parte do portfólio dos ricos estar alocada em renda fixa, a lista de ações e papéis da bolsa favoritos é focada em ativos mais conservadores e inclui até ETFs que acompanham índices de renda fixa.

A pesquisa da Smartbrain é feita com base na plataforma da empresa, que processa diariamente mais de 340 mil extratos de investimentos, somando mais de R$ 250 bilhões de patrimônio analisados. O estudo observa a carteira de investidores dos segmentos de varejo (que têm entre R$ 50 mil e R$ 300 mil e são 25,59% do total); de alta renda (que têm entre R$ 300 mil e R$ 3 milhões e são 40,26% do total); private (que têm entre R$ 3 milhões e R$ 50 milhões e são 30,59% do total) e ultra high (que têm acima de R$ 50 milhões e são 3,56% do total).

Com a Selic ainda mais alta, a renda fixa segue sendo a principal classe no portfólio desse público. A porcentagem desses produtos saiu de 43,19% para 44,59% na passagem de setembro para outubro. Os ativos de previdência, que também costumam ser mais conservadores, também aumentaram sua participação na passagem do mês, saindo de 7,33% para 7,82%.

Por outro lado, a alocação em ativos mais arriscados caiu. O percentual aplicado em ações, por exemplo, saiu de 10,28% para 9,23%. Já os fundos multimercados, que eram 32,91% do portfólio dos ricos em setembro, agora ocupam 31,17% da carteira.

Para dar uma “apimentada” na carteira, no entanto, os ricos estão de olho em ativos arrojados. A classe “outros investimentos”, que engloba, por exemplo, as criptomoedas, saiu de 4,38% para 4,81%. É importante lembrar que parte desse movimento veio da alta do bitcoin em outubro, especialmente após as apostas na vitória de Donald Trump ganharem força. Isso porque o republicano discursou favoravelmente às criptomoedas várias vezes durante sua campanha. Após a eleição, inclusive, o bitcoin chegou a renovar seu recorde.

Os fundos imobiliários, por sua vez, também subiram de participação, saindo de 1,91% para 2,38%. O movimento se dá após esses ativos renovarem o pior mês do ano, o que pode ter sido visto por alguns investidores como uma boa oportunidade de aplicar neles a um preço mais baixo.

As ações favoritas

Dentre as ações favoritas, aquelas de segmentos mais conservadores de mantiveram em alta. No entanto, um movimento interessante visto em outubro foi a aplicação em fundos de índices (também chamados de ETFs, da sigla Exchange Traded Fund), incluindo alguns que acompanham índices de renda fixa.

Os quatro ETFs que surgem na lista de ativos da bolsa favoritos dos endinheirados em outubro são o B5P211, o BRAX11, o DIVO11 e o DEBB11. E dois deles acompanham índices de renda fixa. O B5P211 acompanha a variação do IMA-B5 P2, índice da Anbima composto por uma carteira balanceada de títulos públicos atrelados à inflação (chamados de Tesouro IPCA ou NTN-Bs) com prazo inferior a cinco anos. Já o DEBB11, que replica o Índice Teva Debêntures DI que tem uma carteira composta por debêntures de diferentes empresas.

Para quem não sabe, esse tipo de investimento de renda fixa funciona como um “empréstimo” do investidor para uma companhia. Nele, uma empresa que precisa levantar dinheiro para financiar alguma finalidade emite títulos de dívidas. Quem os compra está “emprestando dinheiro” para aquela companhia, com a promessa de receber o valor, acrescido de juros ao final do prazo determinado.

Já o BRAX11 acompanha o índice IBrX-100, composto pelas 100 mais negociadas ações da B3. Assim, ele se apresenta como uma forma de o investidor diversificar, mitigando ainda mais seus riscos.

O DIVO11 também aparece como uma forma de diversificação, já que ele busca refletir a performance do Índice Dividendos, que reúne as melhores empresas pagadoras de proventos da bolsa.

Além dos ETFs, as ações que estão na lista das favoritas também deixam claro a preferência por ativos menos arriscados. Do setor financeiro, estão as ações do Banco do Brasil, do BB Seguridade e do Itaú Unibanco.

Esses papéis são mais conservadoras por duas razões principais. A primeira delas é porque tratam-se de companhias consolidadas no mercado e com resultados mais perenes. Além disso, elas estão em um setor que tende a se sair bem independentemente do contexto macroeconômico do país. Assim, elas tendem a oscilar menos. Isso significa que os ganhos ficam um pouco mais limitados em cenários mais favoráveis, mas, por outro lado, em cenários mais nebulosos (como o atual) elas ficam mais protegidas.

Outro setor considerado defensivo é o das exportadoras de commodities. Como essas companhias estão expostas a outros países, elas ficam menos suscetíveis a crises internas e, com isso, ajudam os investidores a mitigarem seus riscos. Na lista, estão as ações da Vale. Além dela, quem completa a lista é a Vamos. Embora não seja efetivamente uma exportadora de commodity, a companhia faz a locação de máquinas e caminhões e, portanto, participa da cadeia produtiva do setor agro do país.

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