Suzane Von Richthofen virou personagem de um filme com estreia marcada para o próximo dia 24 de setembro, na Amazon Prime Video. Com o título “A Menina Que Matou os Pais”, o longa conta a trajetória da jovem de 22 anos que tramou a morte de Manfred Albert von Richthofen e Marísia von Richthofen.
O crime ocorreu na noite do dia 30 de outubro de 2002, em uma mansão localizada no Brooklin, em São Paulo. E foi cometido pelos irmãos Daniel (com quem Suzane mantinha um namoro) e Cristian Cravinhos.
Na noite do crime, o irmão de Suzane, Andreas, então com 15 anos, foi levado a uma lan house. Ao irmão, ela afirmou que comemoraria o aniversário de namoro. Próximo dali, Suzane e Daniel encontraram Cristian.
A bordo do carro da jovem, os três se dirigiram à casa dos pais dela. Por volta da meia-noite, o veículo foi estacionado na garagem.
Suzane já havia desligado o alarme e as câmeras de segurança quando os assassinos entraram na residência. Segundo a polícia, no carro já estavam as barras de ferro utilizadas no crime.
Os irmãos Cravinhos subiram as escadas do andar superior vestidos de blusas e meias-calças, a fim de evitar que a polícia encontrasse material genético que os pudesse identificar.
Marísia e Manfred dormiam quando eles entraram no quarto. Daniel se dirigiu ao lado em que o engenheiro Manfred dormia, enquanto Cristian foi na direção de Marísia. Ambos foram golpeados na cabeça.
Manfred morreu na hora, mas Marísia acordou durante o ataque e tentou se defender, tendo três dedos da mão fraturados. Golpeada, ela ainda implorou pela vida dos filhos, por achar que eles estavam dormindo nos quartos ao lado.
Para que pudesse calar os apelos da vítima, Cristian disse à polícia ter colocado uma toalha em sua boca.
Concluído o crime, os irmãos lavaram os bastões na piscina e se livraram das roupas. Suzane e Daniel foram a um motel, após deixar Cristian na casa da avó, onde ele morava. Estranhamente, Daniel pagou a conta e pediu uma nota fiscal.
De volta à mansão, Suzane encenou pavor diante de Andreas ao ver as portas abertas.
“Eles estão bem?”
Quando a polícia chegou ao local, acionada às 4h09, estranhou algumas coisas na cena do crime. Alexandre Paulino Boto foi o primeiro policial a chegar à mansão.
Em seu depoimento durante o julgamento dos três, disse que o crime era ‘coisa de amadores”.
“Largaram as joias, celulares, deixaram uma arma no quarto do casal. Se alguém quer roubar, furtar, não deixaria isso no local”, afirmou o policial, em 2006, segundo reportagem do Último Segundo.
A arma a que ele se referiu era de Manfred e havia sido retirada do cofre. “Um ladrão não deixaria a arma no chão”, insistiu.
Boto afirmou ter estranhado o comportamento de Suzane, que lhe perguntou sobre os procedimentos que a polícia iria seguir. “Eu estranhei a pergunta e a sua atitude impassível”, afirmou.
Em seguida Suzane perguntou pelos pais. “Quando eu disse que estavam bem, ela ficou espantada.
“Como?”, perguntou Suzane.
Outra estranheza do policial foram as observações de Daniel, que chegou ao local pouco depois. “Você sabe se levaram alguma coisa de dentro da casa? Parece que a família guardava todo o dinheiro em uma caixinha”, disse, citando os valores exatos das quantias guardadas.
O dinheiro roubado e algumas joias tinham ficado com Cristian, como pagamento por sua participação nos homicídios.
Por volta das 5h, já era possível ouvir o som de sirenes se aproximando. Repórteres se dirigiram ao local. Fotógrafos subiram em árvores na tentativa de registrar a movimentação dos peritos dentro do imóvel. Helicópteros de emissoras de TV sobrevoavam a região.
O comportamento de Suzane e Daniel na delegacia também levantou suspeitas. Enquanto eles aguardavam para prestar depoimento ao delegado, foram flagrados trocando carícias.
Os investigadores não demoraram a desmontar a farsa. Suzane e Daniel Cravinhos acabaram condenados a 39 anos e 6 meses de prisão. Cristian pegou 38 anos e meio.
A última foto que lembro ter visto de Suzane fora tirada enquanto ela curtia uma saidinha da cadeia de Tremembé. Com um sorvete nas mãos, ela parecia rir de algo muito engraçado.
A justiça chegou a lhe conceder, em 8 de maio de 2019, o direito de deixar a cadeia. Era Dia das Mães. A de Suzane já estava morta, a mando da própria filha, fazia 15 anos na época.
*Amaro Alves foi repórter de polícia até se aposentar, em 2009; vive atualmente em Belém (PA), de onde escreve com exclusividade para oacreagora.com