Opinião: Quando um policial agride, a instituição também sangra

A imagem de um policial civil com arma em punho agredindo um motoboy no meio da rua, após um acidente de trânsito, é um retrato preocupante de algo que jamais deveria acontecer. Quando um agente do Estado, treinado para proteger e servir, recorre à força física e à intimidação armada contra um trabalhador indefeso, há algo de profundamente errado — não apenas com o ato em si, mas com o que ele representa.

O caso, ocorrido no último sábado (22), ganhou ampla repercussão nas redes sociais. O vídeo, que mostra a violência cometida contra o entregador, escancarou uma cena inadmissível: um agente da lei que, em vez de mediar um conflito, tornou-se protagonista da agressão. A vítima, que estava trabalhando no momento do ocorrido, bateu na traseira de um carro e acabou discutindo com o condutor. Em meio à tensão, o policial civil — que não estava identificado como tal — aparece com uma arma e, segundo o motoboy, o agride com um chute e depois com um tapa no rosto.

Esse tipo de comportamento não apenas mancha a imagem da Polícia Civil, como compromete a confiança da população em uma instituição que tem o dever de agir com equilíbrio, legalidade e responsabilidade. A farda e a arma conferem poder, mas esse poder deve estar sempre subordinado à lei. Fora disso, não há autoridade — há abuso.

A Polícia Civil do Acre, que reúne profissionais sérios e comprometidos com a segurança da população, precisa reagir a este episódio com a firmeza que o caso exige. Não basta lamentar ou aguardar que outras instâncias tomem providências. É necessário abrir procedimento interno, investigar com transparência e aplicar as devidas sanções, se confirmada a conduta ilegal. O silêncio institucional ou o corporativismo só reforçam a sensação de impunidade e incentivam que outros excessos se repitam.

É preciso deixar claro: portar uma arma não dá a ninguém o direito de usá-la para intimidar ou impor autoridade à força. A violência contra trabalhadores, especialmente os mais vulneráveis e expostos, como os motoboys, não pode ser naturalizada. O respeito à dignidade e aos direitos das pessoas deve ser um princípio inegociável para qualquer servidor público, sobretudo para aqueles que atuam na linha de frente da segurança.

O Acre não pode aceitar que cenas como essa se tornem comuns. Proteger a imagem das instituições passa, sobretudo, por proteger os cidadãos que elas juraram servir.

*Juraci Fernandes é professor, pai de três filhos e candidato a escritor

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