O bolo e o rabo do cavalo, duas metáforas da ‘era Gladson Cameli’

Horas depois de a Polícia Federal lhe bater às portas e arrombar o cofre, Gladson Cameli trataria de se comparar, durante viagem ao interior do Acre, a uma massa de bolo que cresce nas proporção em que é sovada. A pobreza retórica do governador já é bem conhecida. Assim como o é, também, a sua desfaçatez. Cito dois exemplos. Em um deles, o Sr. Cameli admite ao apresentador de TV ter empregado vários parentes no governo, já que a família é grande e os seus lhe rogaram colocações. No outro, diz ao jornalista, entre risadas, que a Covid lhe apagou da memória as promessas de campanha.

A indigência intelectual de Sua Excelência seria perdoável não fosse o tamanho da sua miséria moral. Gladson não apanha dos adversários políticos, como pretende fazer crer, mas dos fatos. E estes não lhe poderiam ser mais desabonadores.

Acossado pelos muitos indícios de corrupção no seu governo, a suscitarem a ideia de montantes capazes de indignar até mesmo os gatunos petistas, Gladson trata de reduzir o escândalo a uma briga de torcidas. E revela, sempre debochado, que sua única preocupação é com o pleito de 2022.

O dinheiro que irriga a avidez por carros importados, joias caras e relógios de luxo é o mesmo que tem faltado nos hospitais – onde pacientes amargam a espera de cirurgias – e nas escolas, que até dia desses dispensavam os alunos mais cedo por falta de merenda.

Tendo votado em Cameli contra os desmandos dos seus antecessores, já no primeiro ano da nova gestão eu partilhava com amigos minha impressão sobre o novo governo: Gladson fazia caixa na intenção de quebrar o empresariado local e abrir caminho para a República de Manaus.

Alguns me olhavam como se eu delirasse. Aos pouquinhos, porém, as empresas amazonenses foram aportando por aqui para vencer as licitações, que iam de fornecimento de serviços de xerox a transporte de alunos ribeirinhos.  

O coronavírus deu um empurrãozinho aos propósitos de Sua Excelência. E os decretos que fecharam o comércio, falindo empresas e multiplicando o desemprego, em nada afetaram os negócios da família no Juruá, onde os Cameli atuam nos chamados setores essenciais.

Se a vida por estas bandas piorou sob os auspícios deste governo, não cabe culpar a pandemia. A verdade é que faltaram mãos para mexer a massa do bolo, sempre muito ocupadas com afazeres nada republicanos.

O resultado é que o Acre continua a crescer para baixo, como na famigerada metáfora do rabo do cavalo.

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