Lula vê canal aberto para negociar, mas Trump evita antecipar acordo

Kuala Lampur – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encerra sua passagem pela Ásia nesta terça-feira (28/10), certo de ter conquistado um canal de diálogo, inclusive para contato direto, com o presidente dos EUA, Donald Trump. Ambos falaram em um acordo sobre o tarifaço imposto por Washington a produtos brasileiros, mas a Casa Branca segue fazendo mistério sobre suas demandas para um entendimento.

Nesta segunda-feira (27/10), Lula disse acreditar que Brasil e os EUA devem fazer um “bom acordo”. “Eu entreguei para ele (Trump) um documento das coisas que eu queria conversar com ele. Portanto, não foram apenas palavras. Ele tem um documento sabendo o que o Brasil quer, e eu acho que nós vamos fazer um bom acordo”, disse Lula em conversa com jornalistas, na saída do hotel onde está hospedado, na capital da Malásia, Kuala Lumpur.

O petista afirmou ainda que pode acionar Trump diretamente, caso necessário. “Já falei com os meus negociadores. Ele [Trump] foi para a Coreia, para o Japão, mas, a depender do resultado dessa semana, eu já vou importuná-lo com um telefonema direto. Ele também tem o meu telefone. Só que, como eu não uso celular, eu dou o do meu cerimonial. Então, ele liga para o Igreja [assessor] a hora que ele quiser e nós conversamos”, disse Lula.

Também nesta segunda, Trump falou a jornalistas a bordo do avião presidencial Air Force 1 e, embora tenha elogiado o encontro e parabenizado o petista pelo aniversário de 80 anos, evitou adiantar qualquer tipo de acordo.

“Tivemos uma ótima reunião. Vamos ver o que acontece. Não sei se alguma coisa vai acontecer, mas veremos. Eles [Brasil] gostariam de fechar um acordo. Vamos ver. No momento, eles estão pagando, eu acho, 50% de tarifa. Mas tivemos uma ótima reunião”, destacou Trump.

Segundo o governo brasileiro, ficou claro que os norte-americanos topam excluir pautas políticas da negociação comercial. Entram nesse grupo condicionamentos acerca do futuro do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, e relações do Brasil com outros países, como a China.

Ao impor o tarifaço ao Brasil, a Casa Branca afirmou que a medida é uma retaliação ao que considera perseguição política a Bolsonaro e à suposta limitação das redes sociais. Esses tópicos, porém, ficaram de fora da mesa de negociação, segundo assegura o governo brasileiro.

“Aspectos políticos não estão mais na mesa, aquilo que não poderia ter estado mesmo. Graças a isson estamos discutindo uma acordo comercial, e não de outra natureza”, afirmou o secretário-executivo do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Fernando Elias Rosa.

Não ficou claro até o momento, porém, o que a Casa Branca vai impor para aceitar o pedido do Brasil para a suspensão do tarifaço. Trump e seus auxiliares não apresentaram suas demandas – tanto na reunião com Lula quando no encontro entre auxiliares dos governos, realizado na sequência.

Reunião técnica

Nesta segunda, houve a primeira reunião técnica entre integrantes do primeiro escalão dos governos para negociação após o encontro entre Lula e Trump. Pelo lado brasileiro, participaram o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, o secretário executivo do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Rosa, e assessor-chefe adjunto da Assessoria Especial para Assuntos Internacionais, Audo Faleiro.

Já os norte-americanos enviaram o representante de comércio dos EUA (USTR), Jamieson Greer, e o secretário do Tesouro Scott Bessent. Ficou acordado que o Brasil enviaria uma comitiva a Washington o quanto antes, provavelmente na primeira semana de novembro.

De acordo com informações preliminares, devem fazer parte dessa comitiva os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Geraldo Alckmin (Indústria, Comércio e Serviços). Só então, acredita o Planalto, o Brasil ficará ciente das reais demandas dos EUA.

Segundo o Planalto, os ministros podem até deixar temporariamente a COP30 em Belém (PA) para negociar com os norte-americanos. A Cúpula do Clima sediada no Brasil começa no dia 6 de novembro, justamente no período que pode ocorrer a reunião.

A leitura do governo Lula é que a Casa Branca está pronta para suspender, pelo menos parcialmente, o tarifaço. Mas resiste a aceitar imediatamente o pedido para ganhar margem de negociação enquanto formula a sua proposta. Esperam-se pedidos sobre exportação de etanol e acesso a terras raras no Brasil.

Encontro e contato direto

Lula e Trump se encontraram na Malásia, nesse domingo (26/10), numa reunião paralela à 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). O encontro durou quase uma hora e terminou com perspectiva de acordo. Eles trocaram telefones diretos.

O Planalto considera que a agenda com Trump pode demorar a dar frutos em termos comerciais, mas acredita que esvaziará de imediato o discurso da direita de apoio internacional ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Interlocutores de Lula também acreditam que a possibilidade de canal direto com a Casa Branca limitará ações do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para sabotar a relação comercial. O parlamentar está nos EUA e tenta fomentar as sanções por considera que o pai é perseguido politicamente no Brasil.

“O que nós estabelecemos é uma regra de negociação, e toda vez que tiver uma dificuldade eu vou conversar pessoalmente com ele. Ele tem o meu telefone, eu tenho o telefone dele, nós vamos colocar as equipes para negociar, a minha equipe é de alto nível”, afirmou Lula.

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