Sena Madureira é o terceiro município mais populoso do Acre. É mais de um século de história de um povo batalhador, numa das principais cidades no processo de formação do nosso território, bem como um dos mais importantes núcleos urbanos durante os ciclos da borracha. Foi o primeiro município da Regional Purus e está localizada às margens do Rio Iaco.
Fundada em 25 de setembro de 1904, por Siqueira de Menezes, o nome da localidade é uma homenagem ao coronel Antônio Sena Madureira, militar que participou da Guerra do Paraguai. Durante o primeiro “boom” da borracha, acabou sendo uma das cidades mais estruturadas, com alguns serviços públicos únicos e, por isso, tornou-se a primeira capital do Estado.
Hoje, as atividades econômicas estão baseadas na agricultura e na pecuária. A extração de madeira, a castanha e a borracha também continuam sendo importantes para o município. Porém, nos últimos anos, a produção, processamento e comercialização do café são o grande “filão” do momento.
Mas nem tudo são flores na terra do poeta, cantor e compositor Sérgio Souto. “Uma quadrilha, que saqueou mais de R$ 100 milhões, instalou-se por aqui”, declarou o prefeito, Gerlen Diniz (Progressistas), de 51 anos, referindo-se ao grupo político que ficou oito anos à frente do comando político do município.
Formado em Direito e Pedagogia pela Universidade Federal do Acre (Ufac), nasceu nas cabeceiras do Rio Iaco, é filho de seringueiro e cuja família migrou para a cidade para que os filhos tivessem acesso à educação. Durante a infância, andava só de calção pelas ruas da cidade. Uma de suas maiores prioridades é Educação. “Tudo o que eu consegui foi através dos estudos”, disse Diniz, que é servidor público federal.
Mas ele também tem experiência política: foi vereador, deputado estadual por dois mandatos e congressista. Por ser contra o uso do Fundo Eleitoral, não recebeu um único centavo para a sua campanha. “Não sou melhor do que ninguém. Acredito que a política não é para o bolso ou ego das pessoas”, afirmou o alcaide, para quem na vida pública é preciso haver coerência, causas e propostas exequíveis. Em seu gabinete, ele concedeu esta entrevista:

O Acre Agora – Como o senhor entrou para a política?
Gerlen Diniz – Eu não pensava em entrar para política e o meu ingresso se deu por um acaso. Alguns políticos, após se elegerem, trocam de amigos, de esposa, de celular e de casa. Eu entrei e não vi essas necessidades. Quem faz isso não tem caráter. Perdi a primeira eleição em 2008 (vice-prefeito). Dois anos depois, fui candidato a deputado federal e obtive mais três mil votos no município. Em 2002 me elegi a vereador, depois deputado estadual e por duas ocasiões deputado federal.
O Acre Agora – Como foram as eleições?
Gerlen Diniz – Eu passei um bom tempo rebatendo fake news. Os adversários estavam dizendo o que eu iria fazer antes de ser prefeito. Eu disse que iria construir duas creches, haveria dois lanches para os alunos na escola, que é a minha maior conquista até aqui. Quando a criança chega, ela toma café e às 9 horas é servido o lanche. Implantamos uma escola de ensino integral, que oferece três refeições para os alunos e atende dois bairros carentes. Isso sem nenhum investimento do governo federal. Construí três casas populares e eu prometi 100.
O Acre Agora – E as emendas parlamentares?
Gerlen Diniz – Para Sena está previsto mais de R$ 100 milhões. Serão executados cerca de R$ 40 milhões este ano. As minhas emendas devem sair em agosto ou setembro.
O Acre Agora – São raríssimos os casos de deputados federais largarem a Câmara Federal para vir para as prefeituras do interior. Por que o senhor fez isso?
Gerlen Diniz – Eu sou o primeiro filho de Sena Madureira eleito deputado federal. Eu vim ser prefeito da minha cidade porque era necessário. O município foi entregue para uma quadrilha, uma máfia, que desviou daqui R$ 100 milhões de reais. Só com internet aqui, eles gastaram R$ 3 milhões em três anos. Este ano eu vou gastar R$ 140 mil. As pessoas que estavam administrando esta cidade não tinham nenhum pudor. Até medicação para tratar câncer eles passaram a mão. A prefeitura pagou R$ 636 mil e, o mesmo medicamento, o estado gastou R$ 470 mil, portanto, houve um superfaturamento de R$ 166 mil. Após um ano dessa compra, a professora não recebeu nada da prefeitura, apenas do estado. Segundo a paciente, o dono da empresa disse que não poderia comprar a medicação porque ele teve que entregar 50% do valor para o prefeito gastar na campanha. Eu precisava libertar Sena Madureira dessa máfia.
O Acre Agora – Qual é a avaliação que o senhor faz desses quatro meses de gestão?
Gerlen Diniz – Foi um período de muito trabalho, dedicação e compromisso. Eu não larguei o mandato de deputado federal para vir responder processo e para pegar nome de ladrão. Eu vou sair daqui da mesma forma que entrei. E vou fazer muitas coisas porque dá para fazer. É só trabalhar com honestidade. Eu recebi a prefeitura no dia primeiro de janeiro e, no dia 10, a Receita Federal sequestrou o nosso FPM. Depois no dia 20 novamente. Penso que o governo estadual poderia fazer muito mais pelo município. No tocante às satisfações, estão o carinho, o respeito e a consideração que as pessoas têm por mim. As crianças querem tirar fotos e têm orgulho de abraçar o prefeito. Ah, todas as crianças da rede municipal ganharam uniforme escolar. Neste ano ainda, vamos dar um par de sandálias para toda criança. Nós conseguimos ressuscitar a Praça 25 de Setembro. Quando recebemos a prefeitura, o lixo não era coletado há dois meses porque o gestor não tinha mais crédito para comprar combustível. Nós mandamos consertar dezenove máquinas. Ah, tem muitos buracos na cidade, mas eu recebi dessa forma. O governo do Estado fez uma pesquisa para avaliar os gestores de cinco municípios, nos cem primeiros dias, e ficarmos em primeiro lugar.
O Acre Agora – O Acre está vivendo um novo momento no campo econômico, destacadamente na parte leste do estado, onde ficam os municípios às margens da BR 317. Como Sena Madureira pode entrar na rota do desenvolvimento?
Gerlen Diniz – Já estamos cuidando disso e criamos a Coper Café Purus. Nós vamos incentivar o plantio dessa cultura. O meu interesse é que os pequenos e médios agricultores plantem. Quando você planta café, evita o desmatamento. Em um hectare, obedecendo a técnica, o agricultor colhe cem sacos de café. Um saco custa R$2 mil reais, ou seja, ele vai ganhar R$ 200 mil por hectare. A prefeitura vai ajudar com o maquinário e a cooperativa com o calcário. O chefe-geral da Embrapa, Eufran Amaral, que é um conterrâneo nosso, recomendou quatro culturas: o café, o açaí, a mandioca e a banana. Nas áreas alagadiças, plantaremos açaí e tem uma espécie que dá em três anos. A agroindústria desses e de outros produtos irão gerar emprego e renda para a nossa gente. O nosso solo é maravilhoso e os insumos chegam mais baratos.
O Acre Agora – É possível fazer política com ética?
Gerlen Diniz – É possível, mas é raro. De Mâncio Lima a Assis Brasil, eu sou conhecido por honrar os meus compromissos. Quando eu passei no Congresso Nacional, eu descobri duas coisas importantes: no nosso Brasil não faltam dinheiro para a saúde e educação. Mas Gerlen, como faltam medicamentos aqui em Sena Madureira? Porque existem máfias. Acabamos de desfazer um processo licitatório viciado cujas empresas têm relacionamento com aquela que não entregou o medicamento para o tratamento de câncer. Estamos começando do zero, ou seja, estamos refundando o município. Eu abri um processo e aplicamos provas, ou seja, o critério para classificação foi a meritocracia.