Eu, Dona Ester e a reflexão sobre a racionalidade da fé

A coluna Papo de Elevador tem por finalidade levar questionamentos do nosso cotidiano a reflexões interpessoais. O que você pensa e como agiria em determinados assuntos. Via de regra, ela questiona e instiga o leitor, para que ele tire suas próprias conclusões sobre temas do nosso dia a dia. O portal estará republicando os textos mais lidos e outros inéditos. Boa leitura!

– Bom dia, Dona Ester, tudo bem com a senhora?

Naquela manhã eu estava feliz. Tinha ido à missa depois de muito tempo.
Sempre que vou à igreja me sinto mais leve. Não sei explicar o porquê.

– Bom dia, que Deus te abençoe, respondeu.

E prosseguiu:

– Jesus é maravilhoso. Ele tem um plano para você. Acredite nisso.

– Amém, respondi lacônico.

Dona Ester me conhecia desde criança. E já há alguns anos, sempre que me
encontrava no elevador ou portaria, falava sobre Jesus Cristo. Parecia ser
daquelas pessoas que ficam pregando ao vento em praça pública. Mas era boa
gente. Sempre com um sorriso sincero no rosto.

Naquele dia em especial, suas breves palavras me fizeram pensar sobre os
planos de Deus. Em sua homilia, o padre também abordara esse assunto. Os planos
de Deus em nossas vidas. Terá sido coincidência encontrar com Dona Ester na
mesma manhã e com o mesmo assunto? Existe coincidência? Os espiritualistas
afirmam que não.

O poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) escreveu que “a confiança é
ato de fé, e esta dispensa raciocínio”. A fé dispensa raciocínio? É, portanto,
irracional? Mas se ela está diretamente ligada ao ato de pensar, como seria
totalmente irracional? O humorista carioca Millôr Fernandes (1923 – 2012) disse
que “O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde”. Lembrei-me
de um amigo, convictamente ateu, que um dia me pediu para rezar pela saúde da
filha de uma amiga em comum, que havia sofrido um acidente e estava em estado
grave no hospital. “Você que acredita em Deus reze por ela”, disse. Estaria ele
praticando a sua fé através da minha? Esse pedido dele, por si só, não é um ato
de fé?

Assim sendo, podemos afirmar que até o ateu tem fé? Entendo a fé como uma
convicção intensa em algo abstrato, que não se possa provar. Uma crença! Se o
ateu acredita que Deus não existe, mesmo não podendo provar a sua inexistência,
não seria isso uma crença? Uma fé de que Deus não existe?  Se não podemos
provar a existência de Deus, também não conseguimos provar a sua
inexistência.  

Poderíamos, portanto, afirmar a irracionalidade da fé? Mas se ela representa
uma crença em algo ou alguém e o ato de crer requer racionalidade, como afirmar
ser a fé irracional? Poderíamos afirmar, portanto, que tanto os ateus como os
religiosos estão impregnados pela fé? Uns na crença de que Deus existe e outros
na fé da sua inexistência. A mesma fé pode ser utilizada tanto para crer como
para descrer?

O humorista americano Groucho Max (1890 – 1977) disse certa vez que “Todo
mundo precisa crer em algo. Creio que vou tomar uma cerveja”. E você, em que
crê? A sua crença é racional ou irracional?

 

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