É preciso bem mais que sorrisos e dancinhas para governar o Acre

O governador Gladson Cameli nunca foi um político com uma ideologia definida. É político e ponto! Começou sua trajetória na política ainda muito jovem, aos 28 anos de idade, quando se elegeu em 2006 ao cargo de deputado federal pelo Partido Progressista (PP), da extinta Frente Popular Acreana, aliança de partidos liderados pelo PT.

Amparado na história política de seu tio, Orleir Cameli, que havia governado o estado entre 1995 e 1999, obteve pouco mais de 18.000 votos em 2006. Foi reeleito em 2010 com mais de 30.000. O crescimento eleitoral, somado ao grande poderio financeiro de sua família, o içou à candidatura de senador da República no ano de 2014, quando derrotou a candidata Perpétua Almeida, da Frente Popular Acreana. Cameli já não mais pertencia à aliança partidária pela qual havia sido eleito deputado federal por duas vezes consecutivas. 

Amparado, desta vez, no desgaste político pelo qual passava o PT à época, Cameli formou chapa com o hoje senador Marcio Bittar. Bittar candidato ao governo, contra o então governador Tião Viana, que concorria à reeleição, e ele, Cameli, ao Senado.

Gladson venceu a eleição e Marcio Bittar foi ao segundo turno contra Tião. Foi aí então que Cameli deixou Bittar “à deriva”. Recolheu toda a sua equipe e estrutura de campanha e viajou para Brasília. Tião venceu Bittar por pouco mais de 1% dos votos válidos.

A “traição” de Cameli motivou uma rusga pública entre os dois. Bittar chegou a desabafar em suas redes sociais, chamando o “aliado” de ingrato. Quatro anos após, em 2018, em uma aliança que faz jus à máxima segundo a qual “a política é muito dinâmica”, eles repetiram a mesma chapa de 2014. Só que agora, com os papéis invertidos. Gladson candidato ao governo e Bittar ao Senado. Ambos venceram a eleição. Só que desta vez, quem precisou ser amparado fora o Bittar. Se elegeu senador pegando uma carona no altíssimo desgaste do Partido dos Trabalhadores e ao carisma de Gladson e Petecão, seus companheiros de coligação

A vitória de Gladson ao governo do estado, após vinte anos de administração petista, fez (re)nascer, em alguns, a esperança de um estado mais próspero, justo e com melhorias significativas na saúde, educação e segurança. Ledo engano! Faltando menos de um ano para o fim de seu governo, Cameli acumula dancinhas, trapalhadas, frases de efeito, escândalos e, pasmem, não cravou, sequer, uma única grande obra. Seu governo não tem uma marca. Além, é claro, das suas fanfarronices e “canetadas”. Contrata e exonera, assim como troca de camisa.

Aliou-se a antigos adversários, ignorou pessoas que durante as duas décadas de governos da Frente popular foram às ruas para derrotá-la. Comprou parlamentares e asseclas com migalhas públicas, prometeu muito, cumpriu pouco. Chega ao último ano de seu governo sendo protagonista de ações da Polícia Federal e Supremo Tribunal de Justiça, com suspeitas de corrupção. Teve a casa e o gabinete invadidos pela PF, sigilos telefônicos e bancários foram quebrados, assessores presos…

Se no quesito obras públicas, seu governo foi um fiasco, na questão da segurança não foi diferente. Prometeu, ao lado de seu vice, major Rocha, dar “um choque” na segurança. Fracassou mais uma vez. As guerras entre facções, assaltos e homicídios violentos aumentaram significativamente e hoje a população, em especial a de Rio Branco, vive apavorada.

A Secretaria de Educação foi alvo de incontáveis suspeitas de corrupção. Gladson demitiu o secretário, mas não esclareceu sobre a denúncia de compras superfaturada de livros e, seu secretário adjunto, Márcio Mourão, foi parar atrás das grades por uns dias.  Por decisão do Tribunal de Contas do Estado (TCE), o ex-secretário de Educação, professor Mauro Sérgio, terá que devolver aos cofres do Estado a quantia de R$ 416 mil.

Na saúde, então, é que a coisa degringolou de vez. Amparado, desta vez em uma pandemia sem precedentes, o governador dançou para as câmaras, prometeu comprar milhões de reais em vacinas, entrou em um consórcio de estados para comprar a vacina Russa, não adquiriu sequer uma única dose. Fez gracinha – não podemos nos esquecer do “mim (sic) dê que eu tomo” – e muito pouco produziu. Sua maior ação nesta área talvez seja o hospital de campanha construído em Cruzeiro do Sul. A empresa responsável pela obra, com dispensa de licitação, é do primo do governador.

Olhando com a serenidade necessária para estes três anos de governo Cameli, chego à conclusão de que é preciso bem mais do que carisma e sorrisos para administrar os gigantescos problemas do nosso estado. É preciso lealdade, seriedade e competência. E tudo isso foi exatamente o que faltou ao nosso alegre e boa praça governador. Infelizmente. 

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