O Brasil vem registrando um deficit crônico nas relações comerciais com a Austrália, que já soma bilhões de dólares nos últimos anos, e demandará duras negociações visando à abertura do mercado daquele país a diversos produtos do agronegócio brasileiro. Foi o que afirmou o diplomata Mauricio Carvalho Lyrio durante sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE) nesta segunda-feira (14). A comissão aprovou o nome de Lyrio para a chefia da missão diplomática brasileira em Canberra, capital da Austrália. Agora essa indicação, que tramita sob a forma da Mensagem 89/2020, irá a votação no Plenário do Senado.
A fala de Lyrio foi motivada por reclamação da senadora Katia Abreu (PP-TO), que definiu a Austrália como “um dos países mais fechados do mundo ao agronegócio brasileiro, um país extremamente protecionista”. A relatora da indicação do diplomata, Soraya Thronicke (PSL-MS), também chamou a atenção para o deficit comercial crônico do Brasil nas relações com esse país da Oceania.
— Uma análise dos últimos cinco anos confirma que o comércio com a Austrália é tradicionalmente desfavorável para nós. Nosso deficit foi de US$ 653 milhões em 2015; de US$ 410 milhões em 2016; de US$ 899 milhões em 2017; de US$ 652 milhões em 2018; e de US$ 495 milhões em 2019. Além disso, o intercâmbio como um todo caiu 51% entre 2011 e 2019, passando de US$ 2,7 bilhões para US$ 1,4 bilhão no ano passado — alertou Soraya.
Em sua resposta às senadoras, Lyrio disse que a embaixada brasileira passará a contar, a partir de 2021, com um adido agrícola, que será indicado pelo Ministério da Agricultura. A estratégia busca repetir o que ocorreu no México, onde atualmente Lyrio chefia a embaixada do Brasil. O México flexibilizou a entrada de diversos produtos do agronegócio brasileiro nos últimos anos a partir de negociações conduzidas diretamente pelo adido agrícola.
— O caminho é a insistência permanente pela abertura pontual em algumas áreas importantes para nosso agronegócio. Eu contei aqui no México com a enorme competência de um adido agrícola, que me auxiliou na abertura do mercado mexicano. Contarei com o privilégio de receber também um novo adido agrícola na Austrália, que facilitará muito a tarefa de abrir o mercado daquele país, especialmente nos mercados de carne e frutas — declarou Lyrio.
Investimentos recíprocos
A despeito do deficit crônico com a Austrália, tanto Mauricio Carvalho Lyrio quanto Soraya Thronicke destacaram os investimentos recíprocos entre os dois países. Citando dados do “Australia Bureau of Statistics”, Soraya disse que o Brasil possui hoje um estoque de US$ 6,2 bilhões de investimentos advindos de empresas australianas. Por outro lado, Lyrio citou que empresas brasileiras como JBS, Natura, Marcopolo e Weg também fazem “investimentos robustos” em suas estratégias de penetração no mercado australiano.
Lyrio e Soraya também valorizaram o fato de a Austrália ser um país que recebe muitos imigrantes brasileiros. Hoje mais de 55 mil brasileiros vivem na Austrália — desse total, estima-se que cerca de 27 mil são estudantes universitários, de cursos de formação profissional e de língua inglesa, dentre outros.
Fiji e Vanuatu
A embaixada brasileira em Canberra também representa os interesses do país em Fiji e Vanuatu, ilhas próximas à Austrália. Lyrio lembrou que uma missão do Mercosul, composta por 10 empresários, visitou esses países em junho de 2019. E destacou que o comércio do Brasil com Fiji, entre janeiro e julho de 2020, chegou a U$ 600 mil, com superávit de U$ 500 mil para o Brasil. Os principais produtos exportados foram café (18%), calçados (18%), fios de ferro e aço (17%) e máquinas agrícolas (7,4%).
Tailândia
Também foi aprovada nesta segunda-feira a indicação do diplomata José Borges dos Santos Júnior para a embaixada brasileira na Tailândia. Durante sua sabatina, Santos Júnior destacou que o comércio entre os dois países chegou a US$ 3,2 bilhões em 2019, com superávit brasileiro de US$ 131,2 milhões. E entre janeiro e julho de 2020, esse intercâmbio superou US$ 2 bilhões, um crescimento, segundo ele, de 12,2% em comparação ao mesmo período do ano passado.
— Grande parte do incremento decorre do aumento de nossas exportações, que cresceram 35,9% e passaram de US$ 1,3 bilhão. Já as importações brasileiras da Tailândia chegaram a U$ 760 milhões, uma queda de 13,5% — detalhou Santos Júnior.
O diplomata também destacou que grandes grupos empresariais tailandeses aumentaram seus investimentos no Brasil nos últimos anos. Os casos mais notórios, de acordo com ele, são o do grupo hoteleiro Minor Group, que opera hotéis de luxo em destinos turísticos brasileiros, e do grupo PTT, conglomerado tailandês que participa de consórcio para exploração de petróleo e gás.
A indicação de Jorge Borges dos Santos Júnior, que tramita no Senado sob a forma da Mensagem 87/2020, segue agora para votação no Plenário do Senado.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)