Nova narrativa sobre Elize Matsunaga, a esquartejadora

Acabei de assistir à série “Elize Matsunaga: era uma vez um crime”, produzido pelo braço tupiniquim da Netflix. Reputo-a deplorável pela flagrante intenção de vitimizar a assassina do marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga. O crime ocorreu em maio de 2012. Agora, a Matrix Editora promete para o próximo dia 20 de agosto a distribuição do livro “Elize Matsunaga: a mulher que esquartejou o marido”, do jornalista Ullisses Campbell.  

Presa desde 2012, Elize ganhou direito a deixar pela primeira vez a cadeia de Tremembé (SP) em setembro de 2019. Foi durante uma de suas saidinhas (em 2020) que gravou depoimentos para a Netflix.  

Fosse cidadã norte-americana, a assassina estaria cumprindo prisão perpétua ou à espera da execução no corredor da morte. No Brasil, porém, o crime que chocou o país lhe rendeu uma condenação de 19 anos e uns quebrados, reduzidos para pouco mais de 16 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Pelo que li, o livro de Campbell trilha pelo mesmo caminho do documentário, havendo de apresentar uma personagem ‘muito maltratada pela vida”, que ‘criou uma casca de proteção’, segundo palavras do autor.

Para quem não se recorda do crime, Elize foi a autora do disparo de pistola que matou o empresário dono de uma das maiores empresas alimentícias do país. Entre os produtos comercializados está a famosa pipoca Yoki.    

Elize e Marcos: de Gata Borralheira e Cinderela/Foto: web

Depois de cometer o crime, arrastou o cadáver para um dos quartos do apartamento e esperou que o sangue coagulasse para poder esquartejá-lo. Partes do corpo foram espalhadas por regiões diferentes de São Paulo.

As câmeras do elevador mostraram o empresário descendo para apanhar uma pizza e retornando ao apartamento. Depois disso não foi mais visto. As imagens também mostraram Elize deixando o prédio com duas grandes malas. Foi o suficiente para a polícia concluir que o corpo desmembrado de Marcos estava dentro delas.

Era o fim de uma vida de Cinderela e a volta aos tempos de Gata Borralheira. A imprensa passou a divulgar fotos dos tempos em que Elize, garota de programa, se apresentava em um site de acompanhantes como Kelly (esse é o nome verdadeiro da irmã).

Foi como acompanhante que ela conheceu Marcos Matsunaga. Apaixonado por Elize, ele a pediu em casamento. Mas a chegada da filha fez com que o casamento desandasse. E ambos cogitavam a separação quando o crime ocorreu.

Nessa época, um detetive particular contratado por ela revelou um relacionamento extraconjugal com outra garota de programa.     

Elize alega que na noite do crime foi agredida pelo marido. E que atirou nele, com a arma que havia ganhado de presente da vítima, por ‘legítima defesa’. A perícia provou, no entanto, que o tiro partiu de cima para baixo. E pediu que fosse condenada com o agravante da premeditação.

Elize se apresentava como Kelly em um site de acompanhantes/Foto: web

O júri não concordou com essa tese. E se comoveu com a história da moça pobre, que fora estuprada pelo padrasto e fugiu de casa para viver as agruras de uma vida dedicada à prostituição. Os jurados também devem ter engolido a versão da moça indefesa diante de um macho agressivo – ao contrário do que contam os amigos do empresário.

Não me animo a ler o livro de Campbell, como o fiz ao sentar para assistir ao documentário da Netflix – com um pote de pipoca nas mãos. Mas confesso que dessa vez tive o cuidado de escolher outra marca.      

*Amaro Alves foi repórter de polícia até se aposentar, em 2009; vive atualmente em Belém (PA), de onde escreve com exclusividade para oacreagora.com

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