Fortes oscilações alcançaram, nesta terça-feira (19/8), os mercados de câmbio e de capitais no Brasil. O dólar registrou alta de 1,19%, cotado a R$ 5,499. Já o Ibovespa mergulhou fundo no sentido contrário. O principal índice da Bolsa brasileira (B3) fechou em baixa de 2,10%, aos 134.432 pontos.
De acordo com a consultoria Elos Ayta, essa foi a segunda maior queda do Ibovespa em 2025. Ele só ficou abaixo desse patamar em 4 de abril, quando recuou 2,96% naquele pregão. Nesse dia, a China anunciou represálias ao tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o mundo temia o início de uma pesara guerra comercial.
Nesta terça-feira, na avaliação de especialistas (veja abaixo), os dois movimentos, tanto a queda na Bolsa como a alta do dólar, foram resultado da escalada da tensão entre o Supremo Tribunal Federal (STF), no Brasil, e os Estados Unidos.
Na segunda-feira (18/8), o ministro Flávio Dino, do STF, decidiu que ordens de governos estrangeiros não podem ser aplicadas no Brasil sem a homologação do Supremo. O governo americano contestou a medida, afirmando que nenhum tribunal estrangeiro pode anular sanções impostas pelos EUA.
A decisão de Dino foi interpretada pelo mercado como uma forma de blindar o ministro Alexandre de Moraes, também do STF. Em 30 de julho, Moraes foi incluído na lista da Lei Magnitsky, voltada para punir pessoas por casos de corrupção e por violações de direitos humanos. Para a Casa Branca, o ministro do STF estaria perseguindo politicamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), um aliado de Trump.
As punições da Magnitsky preveem o bloqueio de bens nos EUA, a proibição de entrada em território americano e o veto a transações com pessoas físicas ou jurídicas sediadas nos Estados Unidos.
Bancos afundam
Nesse cenário, os analistas de mercado concluíram que os bancos brasileiros com operações nos EUA ficaram diante de um dilema, cuja saída, em qualquer caso, leva a complicações legais. Eles teriam de descumprir ou a recente decisão do STF ou a sanção do governo americano.
Com isso, as ações dos bancos brasileiros desabaram na B3 nesta terça-feira. Os papéis do Banco do Brasil registraram baixa de 5,79%. Os do BTG, 5,13% e os do Itaú, 4,12%. Bradesco e Santander baixaram, respectivamente, 3,50% e as do Santander 3.49%.
Movimento defensivo
Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, afirma que o dólar avançou em um movimento defensivo no mercado local, sustentado pela combinação de risco institucional e queda das commodities.
“No plano doméstico, a decisão do STF envolvendo a Lei Magnitsky reacendeu dúvidas sobre a aplicação de normas estrangeiras no Brasil, levantando questionamentos sobre segurança jurídica e autonomia das instituições financeiras”, diz Shahini. “Esse ruído aumentou a percepção de risco local, estimulando um movimento de busca por proteção no câmbio. Ao mesmo tempo, o recuo do petróleo e do minério de ferro deteriorou os termos de troca na sessão e pressionou o Ibovespa, reforçando a migração para o dólar.”
Para Gabriel Filassi, especialista em investimentos e sócio da AVG Capital, a queda forte do Ibovespa foi impulsionada pelas ações dos principais bancos, provocada pelo estresse com o embate político entre o governo dos Estados Unidos e o STF. “Foi gerada uma grande incerteza para o investidor”, afirma. “Ele, de imediato, passou a comprar dólar e vender Bolsa. Daí a queda do Ibovespa e a alta da moeda americana.