O primeiro caso de gripe aviária (IAAP) em uma granja comercial no Brasil foi confirmado no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. Como reação imediata, países como China, Argentina e membros da União Europeia suspenderam as importações da carne de frango brasileira. A medida pode ter impacto direto no bolso do consumidor e nos rumos do agronegócio nacional.
Frango mais caro e menos arrecadação de impostos
O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo e destina cerca de 40% da produção ao mercado externo. Com a interrupção das exportações, especialistas apontam que a oferta interna pode até ser reforçada, mas a realidade deve ser o oposto.
De acordo com a economista Daniela Cardoso, mestre em Ciências Políticas e professora da FESPSP, os estados do Sul — Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul —, que concentram a maior produção de frango, serão os mais prejudicados economicamente. “Os estados terão sua economia mais afetada, principalmente a arrecadação de tributos. Assim como os municípios onde estão instaladas as fábricas e abatedouros. Muito provavelmente teremos uma pequena alta no preço do frango”, disse.
Ela explica que, mesmo com menor demanda externa, a exigência de abate preventivo em áreas afetadas pode diminuir a oferta e pressionar os preços para cima. “As agências sanitárias brasileiras também vão exigir o abate dos frangos em determinadas regiões. Isso reduz a oferta e, consequentemente, pode provocar um aumento nos preços internos”, completou.
Produtos mais baratos
Embora o cenário mais provável seja de alta nos preços, há possibilidade de queda, caso o surto seja contido rapidamente. O agrônomo e mestre em agronegócios da UNB, Armando Fornazier, destaca que tudo depende do número de novos casos.
“Se, nesses dois meses, não surgirem novos focos e for observado que a doença não se propagou, o impacto pode ser pontual e de curto prazo”, explicou. Ele ressalta que a situação exige monitoramento contínuo.
A visão é compartilhada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Segundo ele, a redução nas exportações pode aumentar a oferta interna e, com isso, reduzir os preços, especialmente dos ovos. “O que fez o preço do ovo subir foi a demanda aquecida. Mas, com certeza, com mais oferta interna, os preços podem cair um pouco”, afirmou o ministro à GloboNews.
Impacto na cadeia produtiva
O problema não se limita à carne de frango ou aos ovos. A cadeia produtiva da avicultura envolve setores como os de milho e soja, que compõem a base da alimentação das aves. Uma retração na produção pode afetar diretamente esses segmentos.
Fornazier destaca ainda que muitos produtores estão inseridos em contratos de integração, sendo pequenos agricultores familiares que dependem da criação de aves. “A produção de aves tem uma importância enorme no agro brasileiro. Se houver retração, o impacto será sentido por toda a cadeia, desde o produtor de ração até o agricultor que depende do sistema de integração com as grandes empresas.”
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) reforçou que a gripe aviária não é transmitida pelo consumo de carne ou ovos e que medidas de contenção já estão sendo adotadas. Ainda assim, a recuperação da confiança internacional deve demorar, o que pode manter os impactos econômicos ativos por um bom tempo.
Fonte: Web