Antes de mergulhar no mundo do crime, se tornar conhecida como Diaba Loira no Rio e integrar as facções criminosas como Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP), Eweline Passos Rodrigues, de 28 anos, aparentava levar uma vida comum em Tubarão, Santa Catarina. Ela trabalhava como vendedora de cosméticos, vendendo perfumes, e maquiagens. Na quinta-feira, Eweline foi encontrada morta em Cascadura, na Zona Norte do Rio. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga o caso.
Casada e mãe de dois filhos, Eweline compartilhava nas redes sociais momentos ao lado da família, fotos da gravidez e até conquistas pessoais, com medalhas, sem nenhuma tatuagem pelo corpo. No seu perfil do Linkedin, ela se dizia revendedora de cosméticos, perfumes, maquiagens, produtos do mundo fitness e de higiene pessoal.

Antes de mergulhar de vez no mundo do crime, diaba loira também trabalhou como cobradora interna e alfaiate, com salários que variavam entre R$ 1.017 e R$ 1.346. No nome dela, também há uma empresa voltada para promoção de vendas, registrada em Tubarão, sua cidade natal, em Santa Catarina, com capital social de R$ 3 mil.
Quando foi presa pela segunda vez, em 2024, por porte ilegal de arma em Tubarão, Diaba Loira chegou a declarar no termo da audiência de custódia que trabalhava como “empresária, MEI”, ou seja, microempreendedora.
Em vídeos publicados nas redes sociais, Diaba Loira afirmava que sua entrada no crime não tinha relação com adrenalina ou “emoção”, mas com fatos que, segundo ela, a empurraram para o tráfico:
“Eu não estou no crime por emoção. Entrei porque tive motivos. Comecei depois de velha, e isso foi culpa da polícia, que não fez nada pelo que aconteceu comigo lá em Santa Catarina (tentativa de feminicídio). Aquilo me empurrou para o crime. Não aconselho ninguém a seguir esse caminho, mas hoje não quero mais largar, e nem dá para largar. Não quero mesmo”, disse Eweline.
De vítima de tentativa de feminicídio a traficante
Segundo a Polícia Civil catarinense, Diaba Loira vira traficante após sofrer uma tentativa de feminicídio em 2022, em Capivari de Baixo, município de cerca de 24 mil habitantes. Ela foi atacada com uma facada no pulmão pelo ex-companheiro enquanto buscava o filho pequeno, precisando passar por cirurgia de emergência.
— A primeira vez que me deparei com a Eweline foi quando ela foi vítima de uma tentativa de feminicídio. O sujeito e a família alegavam que ela havia se apossado de uma quantia em dinheiro dele — contou o delegado André Luiz Bermudez Pereira, da 5ª DRP, em Tubarão.
O ex-marido trabalhava em outro estado e relatou que, ao voltar a Santa Catarina, descobriu que Eweline o traía e havia se apropriado do dinheiro que ele enviava para ser guardado. Segundo o delegado, foi expedido um mandado de prisão preventiva contra o ex-marido após investigação e ele ficou preso apenas durante o processo.
Na época da tentativa de feminicídio, Diaba Loira já mantinha vínculos com traficantes, embora não houvesse provas de envolvimento direto no crime, segundo o delegado. Já com Eweline no Rio, em 2024, aconteceu o julgamento do ex-marido. Conforme Pereira, a defesa dele explorou toda a ligação de Eweline com facções e o tráfico de drogas, e os jurados acabaram absolvendo o acusado da tentativa de feminicídio.
Após o ataque, a Polícia Civil de SC passou a investigá-la por tráfico de drogas em Tubarão. Enquanto aguardavam a expedição de um mandado de busca e apreensão, Eweline foi presa em flagrante pela Polícia Militar em maio de 2023, quando estava a caminho de executar um desafeto da facção, segundo o delegado.
Em janeiro de 2024, veio a segunda prisão. Já investigada por integrar uma organização criminosa, ela e um comparsa foram detidos por porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas, com provas de que se deslocavam para executar outro desafeto. — A sequência dos elementos deixava claro que ela fazia parte de uma facção catarinense e atuava também em Florianópolis — afirmou Pereira.

Diaba Loira chegou a responder em liberdade, mas, após novo pedido de prisão, passou a viver foragida. Em 2024, fugiu para o Rio de Janeiro, onde buscou abrigo em redutos do Comando Vermelho: primeiro no Complexo do Alemão, na Zona Norte, e depois na Gardênia Azul, na Zona Oeste.
— Nesse período, recebíamos diversas fotos e vídeos dela portando fuzis nas favelas cariocas — contou Pereira.
Já no Rio, ocorreu o julgamento do ex-marido. A defesa explorou toda a ligação de Eweline com facções criminosas e tráfico, e os jurados absolveram o acusado de tentativa de feminicídio.
O apelido “Diaba Loira” surgiu após sua chegada ao Rio, coincidindo com sua notoriedade nas redes sociais, onde colecionava cerca de 70 mil seguidores e compartilhava vídeos portando armas pesadas. Até pouco antes, era conhecida como “Pitbull”.
Em junho deste ano, voltou a chamar atenção ao ser vista atirando contra policiais durante uma operação na Gardênia Azul.
Do CV para o TCP
Em vídeos, a Diaba Loira já deixava claro que havia migrado de facção e contava que não temia ser executada por traficantes rivais por classificá-los como “despreparados”.
“É para eu ter medo? Eu estava do lado de vocês esse tempo todinho, sei que vocês são despreparados. Então antes de falar que a ‘equipe caos’ vai te pegar, parem de querer ameaçar, está chato já. Quem faz não fala”, dizia em um dos vídeos.
Em julho, publicou um vídeo lamentando a morte da mãe, afirmando que ela teria sido assassinada por criminosos rivais do CV. Na realidade, a mãe está viva e chegou a se apresentar na delegacia de Tubarão para esclarecer a suposta morte da filha.
“Vocês pegaram a minha família, mataram a minha mãe. Vocês destruíram a única pessoa que eu tinha. Acabaram com ela, mesmo sabendo que ela morava sozinha e quase não falava comigo. Esses filhos da p*ta do Comando Vermelho sabiam”, disse Diaba Loira num vídeo publicado em julho deste ano.
Eweline também confirmou publicamente sua aliança com o TCP, compartilhando conteúdo ligado à Tropa do Coelhão, grupo do TCP no Complexo da Serrinha, em Madureira. Em postagens, ela passou a compartilhar conteúdo ligado à Tropa do Coelhão, liderado pelo traficante William Yvens Silva, grupo ligado ao TCP no Complexo da Serrinha, em Madureira, Zona Norte do Rio, cujo chefe do tráfico é um dos criminosos mais procurado do Rio, Wallace Brito Trindade, o Lacosta.
Entre os conteúdos compartilhados, chama atenção uma tatuagem nas costas. O desenho mostra uma mulher segurando um fuzil e fazendo o número três, em referência à facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP). Além disso, a arte inclui a imagem de um coelho e de um jacaré.
Ela também apagou postagens com referências à antiga facção.
Contra Eweline constam pelo menos três mandados de prisão em aberto, sendo dois expedidos por tribunais de Santa Catarina, por tráfico de drogas e organização criminosa: um pela Primeira Vara Criminal da Comarca de Tubarão e outro pela Vara Única da Comarca de Armazém, prisão definitiva decorrente de condenação transitada em julgado, com pena restante de cinco anos e 10 meses em regime fechado, além de violação de medidas judiciais por descumprir monitoramento eletrônico.