A Saideira e a Conta: “Campari, chopes e segredos inconfessáveis”

Já tinha tomado quatro chopes e uma dose de Campari. Para uma quarta-feira pós trabalho estava de bom tamanho. Quando me preparava para pedir a conta ao Seu Felipe, a conversa entre duas jovens me desviou a atenção.

– Olha, vou te contar, mas é segredo.

– Claro, pode confiar. Não contarei a ninguém.

Como me desfoco muito facilmente, o bate-papo entre as moças me levou a uma reflexão “momentaneamente etílica”.

Segredo é uma coisa muito complexa, vai desde o segredinho mais infantil com o colega do pré-escolar aos mais cruéis e tenebrosos, guardados à sete chaves dentro daquele que o tem. Quando se passa de meio século de vida, estes “ultra-confidenciais”, se tornam mais numerosos e corrosivos. É inevitável o pensamento: “conseguirei levá-los comigo, tão somente comigo, até o dia final?” Seja por medo, vergonha ou conveniência, todos têm os seus. O que difere é como cada indivíduo convive com esses segredos.

A psicologia identifica diversos tipos de segredos. As mentiras são os segredos mais comuns, seguidos de desejos românticos, sexuais e finanças.

“Nada pesa tanto quanto um segredo”, escreveu, no século 17, o francês Jean de La Fontaine. Esta metáfora é repetida de diversas formas por muitos outros escritores, e foi o ponto de partida para uma pesquisa que levou uma década, realizada pelo psicólogo Michel Slepian, da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos. Ele pesquisou 50 mil pessoas de 26 países diferentes e constatou que, de fato, quando as pessoas pensavam nos segredos, demonstravam uma sensação de carga, davam o mesmo tipo de resposta de alguém que carrega peso físico.

“Não tínhamos respostas satisfatórias para algumas das perguntas mais básicas, como quais segredos as pessoas guardam, com que frequência elas os conservam e o que acontece quando um segredo vem à mente… No momento em que você tem a intenção de não contar algo a uma pessoa, nasce um segredo.”  afirma Slepian.

Benjamin Franklin, considerado o “pai” dos Estados Unidos, disse que “as três coisas mais difíceis do mundo são: guardar um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o tempo.”

O jornalista e escritor Diego Marchi, escreveu que “na vida, todos temos um segredo inconfessável, um arrependimento irreversível, um sonho inalcançável e um amor inesquecível.”

Qual seria o segredo que a aquela guria iria contar para a amiga? Será que ela, ainda tão jovem, já tinha os seus segredos inconfessáveis? Por quantos anos eles se permaneceriam inconfessáveis? Qual será o peso que ele impõe a ela?

Nessa hora, me veio à cabeça alguns que carrego e que me pesam em um patamar considerável. Aproveitei o estardalhaço que um copo derrubado por alguém fez ao se espatifar ao chão e mudei o rumo dos meus pensamentos. Os levei de volta ao som da banda Vitória Régia e pedi ao seu Felipe mais uma dose de Campari e outro chope, com a secreta intenção de continuar guardando os segredos mais profundos em algum lugar camuflado do meu cérebro, para que eles demorem demais voltar a atordoar o juízo.

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