Michelle Bolsonaro publicou uma nota nas redes sociais, nesta terça-feira (2/12), sobre as críticas que recebeu dos enteados, os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro. A ex-primeira-dama foi alvo de ataques após condenar a aproximação do diretório do Partido Liberal (PL) no Ceará com Ciro Gomes (PSDB), durante um evento partidário em Fortaleza (CE), nesse domingo (30/11).
“Eu jamais poderia concordar em ceder o meu apoio à candidatura de um homem que tanto mal causou ao meu marido e à minha família”, afirmou Michelle.
Na nota, Michelle diz respeitar o posicionamento dos enteados, mas afirma ter o direito de expressar os pensamentos com liberdade e sinceridade. “Eu tenho o direito de não aceitar isso, ainda que essa fosse a vontade do Jair (ele não me falou se é)”, explica.
“Antes de ser uma líder política, eu sou mulher, sou mãe, sou esposa e, se tiver que escolher entre ser politica, mãe ou esposa, ficarei com as duas últimas opções”, afirma.
Ao longo da nota, a esposa de Jair Bolsonaro reforça que, entre os motivos de não apoiar a candidatura de Ciro, está o fato de ele ter sido responsável por rotular o marido como “genocida”.
“Como ser conivente com o apoio a uma raposa política que se diz orgulhoso por ter feito a petição que levou à inelegibilidade do meu marido e se diz satisfeito com a perseguição que ele tem sofrido?”, questiona a ex-primeira-dama.
Michelle alega que Ciro não é e nunca defenderá os valores da direita, e que “sempre será um perseguidor e um maledicente contra Bolsonaro”. De acordo com ela, derrotar o PT apoiando o candidato tucano seria o mesmo que “trocar Joseph Stalin por Vladimir Lenin”.
A líder do PL Mulher também justifica que, mesmo que Bolsonaro não compartilhe da mesma opinião, muitas vezes são as esposas que são “chamadas a mostrar aos maridos que eles podem estar errando”.
Ao fim da nota, ela pede perdão aos enteados pela discordância política e diz que não foi a intenção contrariá-los. “No episódio de Fortaleza, eu fui apenas uma esposa defendendo o seu marido e a sua família de um homem que sempre nos atacou”.
Entenda a tensão no clã Bolsonaro
A tensão entre os Bolsonaro ficou pública após o último fim de semana, quando Michelle Bolsonaro criticou a aproximação do diretório do Partido Liberal no Ceará com Ciro Gomes (PSDB), durante um evento partidário em Fortaleza (CE).
No discurso, Michelle repreendeu os aliados locais pela tentativa de aproximação com o ex-governador de Ceará, que já anunciou a candidatura ao cargo nas eleições do próximo ano.
“É sobre essa aliança que vocês [PL-CE] se precipitaram a fazer. […] Fazer aliança com o homem [Ciro] que é contra o maior líder da direita, isso não dá. […] A gente quer pacificar, quer ter a unidade, e a gente vê que a pessoa [Ciro] não levanta a bandeira branca. A pessoa continua falando que a família é de ladrão, é de bandido. Compara o presidente Bolsonaro a ladrão de galinha. Então, não tem como, não existe mais essa”, disse Michelle.
A fala da ex-primeira-dama contradizer diretamente o anúncio feito pelo deputado federal André Fernandes (PL-CE), presidente da sigla no estado, inflamou os dirigentes locais e expôs tensões internas no partido. No fim de outubro, Fernandes afirmou que Jair Bolsonaro havia dado aval ao apoio do PL à candidatura de Ciro Gomes ao governo do Ceará.
A repercussão, porém, foi ainda mais ruidosa entre os filhos de Bolsonaro. Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi o primeiro a repreender a madrasta. Ao Metrópoles, por meio da coluna de Igor Gadelha, o senador afirmou que a fala de Michelle foi “autoritária e constrangedora.”
“A Michelle atropelou o próprio presidente Bolsonaro, que havia autorizado o movimento do deputado André Fernandes no Ceará. E a forma com que ela se dirigiu a ele, que talvez seja nossa maior liderança local, foi autoritária e constrangedora”, disse o filho mais velho de Jair Bolsonaro à coluna.
De acordo com Flávio, a estratégia por trás da aproximação com Ciro tem caráter pragmático e foi autorizado pelo pai: como Ciro é pré-candidato ao governo e não deve servir de palanque para Lula, a aliança abriria “uma janela de oportunidade para diminuir a força local de Lula para presidente”. A avaliação contraria diretamente a crítica feita por Michelle.
Em seguida, os filhos 02, 03 e 04 – Carlos, Eduardo e Jair Renan Bolsonaro – saíram em defesa do irmão e, consequentemente, em ataque à madrasta.
Para o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), Michelle “atropelou” Jair Bolsonaro. “Meu irmão Flávio Bolsonaro está certo e temos que estar unidos e respeitando a liderança do meu pai, sem deixar nos levar por outras forças!”, escreveu no X. O também vereador Jair Renan Bolsonaro (PL-SC) republicou o post.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ainda defendeu a postura de André Fernandes. “Foi injusto e desrespeitoso com o André Fernandes o que foi feito no evento. Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mal acordo, foi uma posição definida pelo meu pai. André não poderia ser criticado por obedecer o líder”, afirmou na mesma rede social.
O episódio escancara a maior fissura pública já vista dentro do bolsonarismo desde 2018. A divergência aberta entre Michelle, Flávio, Carlos e Eduardo ocorre num momento de fragilidade inédita, com Jair Bolsonaro preso em regime fechado na Superintendência da Polícia Federal e impossibilitado de arbitrar conflitos internos.
Até então, os desentendimentos públicos de Michelle dentro do clã tinham Carlos Bolsonaro como principal protagonista. Desde 2022, os dois acumulam episódios de atrito.
Em março deste ano, Michelle afirmou ter “perdoado” o filho do ex-presidente por brigas do passado, mas reforçou que prefere “manter distância” e que é “obrigada a conviver.”
