
A segurança pública no Brasil sempre foi palco de debates acalorados e, muitas vezes, de sugestões que flertam perigosamente com o absurdo. Contudo, em meio a crises e propostas bem-intencionadas, emerge um pensamento que se destaca pela completa desconexão com a realidade operacional do combate ao crime organizado. A protagonista desta ideia peculiar é Jacqueline Muniz, cientista política e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), que recentemente sugeriu uma tática, no mínimo, insólita.
Em uma declaração que rapidamente viralizou, Muniz postulou: “O criminoso tá com o fuzil na mão, ele é facilmente rendido por uma pistola, até por uma pedra na cabeça. Enquanto ele tá tentando levantar o fuzil e colocar o fuzil pra atirar, alguém joga uma pedra e já derrubou o sujeito.”
É chocante que um raciocínio tão simplório e perigoso possa vir de uma doutora com tal currículo. A ideia não só ignora a complexidade do confronto, mas também desvaloriza a vida dos profissionais de segurança. Duas críticas fundamentais demonstram por que essa “solução” é, de fato, imbecil:
Desprezo pela Capacidade de Resposta e Poder de Fogo
A primeira e mais evidente crítica reside na gritante diferença entre o poder de fogo de um fuzil e a capacidade de resposta de qualquer projétil manual, seja ele uma pedra ou mesmo uma pistola. Um criminoso com um fuzil (arma de uso militar/restrito), como o AK-47 ou AR-15, opera com uma margem de letalidade e precisão completamente distintas das de um policial usando uma pistola.
A sugestão de “jogar uma pedra” pressupõe que o agressor estará paralisado ou com a guarda baixa por tempo suficiente para que um projétil de trajetória lenta e imprecisa o atinja na cabeça, desarmando-o. Isso ignora o tempo de reação e a capacidade de fogo de supressão do fuzil, que pode disparar dezenas de projéteis por segundo, transformando o ato de “jogar uma pedra” em uma sentença de morte instantânea para o agressor. A pedra não é uma tática, mas sim uma fantasia ingênua que coloca a vida do policial em risco imediato e desnecessário.
Ignorância sobre Táticas de Combate Urbano e Segurança do Policial
O segundo ponto é a completa ignorância sobre as táticas de combate urbano e a doutrina de segurança do policial. O enfrentamento do crime organizado em favelas e áreas conflagradas não se baseia em duelos individuais ou improvisos hollywoodianos. É uma questão de superioridade tática, uso de cobertura/abrigo, comunicação coordenada e material bélico adequado.
Professora Muniz parece desconhecer o conceito de “vantagem tática”. Um policial capacitado e treinado jamais deve se expor a um confronto de longo alcance ou desvantagem de armamento, esperando um momento de distração do inimigo para um ataque improvisado. A doutrina policial exige que o agente utilize força progressiva e proporcional, e que minimize o risco à sua própria vida e à de terceiros. A ideia de que uma força policial ou um cidadão deveria deliberadamente se expor ao fogo de um fuzil para tentar um arremesso de pedra é um conceito irresponsável que desqualifica todo o treinamento e protocolo de segurança.
A segurança pública exige planejamento sério, investimento em inteligência e armamento de ponta, e não a promoção de métodos que beiram o charlatanismo. A solução para a criminalidade complexa não virá de um estilingue, mas sim de políticas públicas embasadas na realidade e no respeito à vida dos que estão na linha de frente.
