Rosemary Pauline Letts e Frederick West se viram pela primeira vez no início de 1969. Ambos viviam em Gloucester, Inglaterra. Ela tinha acabado de fazer 15 anos. Ele estava com 27.

Rose e Fred se conheceram em um ponto de ônibus. Ela, de início, sentiu repulsa pela aparência desleixada de Fred, deduzindo que ele não passava de um vagabundo. Mas logo ficou envaidecida com a atenção que ele lhe dava sempre que se sentava ao seu lado, na mesma parada de ônibus. Rose se recusou duas vezes a ir a um encontro com Fred, mas permitia que ele a acompanhasse até sua casa.

Rosemary Letts foi a quinta de sete filhos nascidos em uma família pobre. Ela se tornou uma adolescente temperamental e precoce, pouco propensa aos estudos. Rose e a irmã, Patricia, foram abusadas sexualmente pelo pai.

No início da puberdade, Rose desfilava nua ou seminua pela casa na presença do irmão mais novo, Graham, de quem abusou quando ele tinha 12 anos.

O relacionamento com Fred não foi aprovado pelos pais de Rose. Mas isso não os impediu de continuar se vendo. Em pouco tempo, ela se tornaria babá das duas filhas do primeiro relacionamento dele, Anna Marie e Charmaine.

Poucas semanas após seu primeiro encontro com Fred, Rose deixou seu emprego na padaria para se tornar babá em tempo integral das duas crianças. Mas para isso, Fred teria que lhe dar dinheiro suficiente para que seus pais acreditassem que ela continuava com o emprego antigo.

Quando afinal apresentou o namorado aos pais, estes proibiram o relacionamento, a ponto de tê-la enviado a um abrigo para adolescentes problemáticos.

Rompimento com os pais

Em seu aniversário de 16 anos, Rose deixou o abrigo para se mudar – dias depois – para o apartamento dele, com as duas filhas de Fred. Seu pai a proibiu de voltar a pôr os pês em sua casa.

Em outubro de 1970, Rose deu à luz a filha Heather Ann. Em dezembro daquele ano, Fred foi preso por furto de pneus de automóveis, pegando uma pena de seis meses e meio na cadeia. Rose, então com 17 anos, passou a cuidar das três meninas.

De acordo com Anna Marie, ela e a irmã foram frequentemente submetidas a abusos físicos e emocionais ao longo do tempo em que viveram sob os cuidados de Rose.

Acredita-se que Rose tenha matado Charmaine pouco antes de Fred ser solto na prisão, em 24 de junho de 1971.

Ela costumava explicar o desaparecimento da menina alegando que a mãe biológica e primeira esposa de Fred, Catherine West, havia levado a filha mais velha para morar com ela em Bristol. Essa mesma informação foi dada aos funcionários da escola primária onde Charmaine havia estudado.

O corpo de Charmaine foi inicialmente escondido no porão até Fred ser libertado da prisão. Mais tarde, ele a enterrou no quintal, perto da porta dos fundos do apartamento.

Uma autópsia subsequente sugeriu que o corpo havia sido cortado no quadril. Vários ossos – especialmente patela, dedo, pulso, dedo do pé e tornozelo – estavam faltando em seu esqueleto, levando à especulação de que as partes ausentes foram mantidas como lembranças.

Nunca mais foi vista

A mãe de Charmaine tentou obter informações sobre as filhas. E foi vista pela última vez em 1971, antes de tentar visitar as meninas, certamente na intenção de reaver a sua guarda e levá-las consigo.

A polícia suspeita que Catherine foi morta por estrangulamento, no banco de trás do carro de Fred. Seu corpo foi encontrado anos depois, perto de um conjunto de árvores, onde fora enterrado dentro de sacos plásticos, desmembrado.

Em 1972, Rose estava novamente grávida. Eles compraram uma casa grande nessa época, na qual os quatros do andar superior foram transformados em dormitórios para complementar a renda da família. Em 1º de junho, Rose teve a segunda filha, batizada de Mae June.

Pouco tempo depois de dar à luz pela segunda vez, Rose começou a trabalhar como prostituta. Ela usava um quarto do andar superior da casa para receber clientes e fazia anúncios dos seus serviços em uma revista local. Fred teria encorajado a esposa a buscar clientes por meio desses anúncios.

Rose também se envolveu sexualmente com inquilinos – tanto homens quanto mulheres – e com indivíduos que Fred levava para casa. Ele era um voyeur, que também participava das atividades sexuais da mulher.

Em 1977, o pai de Rose, Bill, já havia tolerado o casamento da filha. Ele e Fred chegaram a abrir um café ao qual deram o nome de Lanterna Verde, que logo faliu. Quando Bill descobriu a prostituição de Rose, ele também foi à casa da filha para fazer sexo com ela.

Em 1983, ela já tinha dado à luz oito filhos, pelo menos três dos quais foram concebidos por clientes. Fred aceitou com naturalidade essas crianças como suas e lhes informou falsamente que a razão de sua pele ser mais escura do que a de seus irmãos era porque sua bisavó era negra.

As crianças, sempre aos sete anos de idade, eram designadas para tarefas domésticas e proibidas de socializar com estranhos ou vizinhos, a não ser que os pais estivessem por perto.

Os castigos físicos eram constantes e recorrentes, e aconteciam pelas mínimas infrações.

Anna Marie

Em setembro de 1972, os Wests conduziram Anna Marie, de oito anos, ao porão da casa dos pais, onde ela foi obrigada a se despir, amarrada a um colchão e amordaçada antes de Fred estuprá-la sob o incentivo de Rose. Após o estupro, Rose explicou à criança: “Todo mundo faz isso com todas as meninas. É trabalho de pai. Não se preocupe e não diga nada a ninguém”.

Rose ocasionalmente também abusava sexualmente da filha. Anna Marie era constantemente amarrada aos móveis pela mãe e estuprada pelo pai. A menina também era obrigada a realizar tarefas domésticas usando uma minissaia.

Aos 13 anos, ela teve que se prostituir dentro de casa, com os clientes sendo informados que a menina tinha 16.

Em outubro de 1972, o casal contratou Caroline Owens, de 17 anos, como babá de seus filhos. Eles a encontraram uma noite em uma estrada isolada enquanto ela pedia carona.

Quando Caroline se tornou alvo dos avanços sexuais dos Wests, ela anunciou suas intenções de deixar o emprego e voltar para casa.

No dia 6 de dezembro de 1972, o casal atraiu Caroline para seu veículo com um pedido de desculpas por sua conduta. A jovem acreditou e aceitou a carona oferecida por eles.

No banco de trás do carro, sentada ao lado de Rose, Caroline começou a ser acariciada e rejeitou os avanços da mulher. Foi quando Fred parou o carro, a xingou de ‘vadia’ e a esmurrou até a inconsciência. Em seu depoimento subsequente à polícia, Caroline afirmou que, já na residência dos Wests, recebeu uma xícara de chá e após beber se sentiu drogada. Ela então foi novamente amordaçada e submetida a uma prolongada agressão sexual.

Ao perceber o perigo que corria, Caroline concordou em voltar a trabalhar como babá e prometeu não contar a ninguém sobre os abusos. Ela passou o aspirador de pó na casa e foi à lavanderia com Rose, onde encontrou com a mãe. Esta notou os vergões e hematomas na filha, comunicando o fato à polícia.

Prisão

Os Wests foram presos e acusados ​​de agressão, lesão corporal e estupro. O caso foi julgado no Tribunal de Gloucester em 12 de janeiro de 1973, mas Caroline decidiu que não testemunharia. Com isso, as acusações relativas ao seu abuso sexual foram retiradas, e os Wests concordaram em se declarar culpados das acusações de agressão e danos físicos; cada um foi multado em 50 libras e eles puderam sair livres da audiência. Quando Caroline ouviu essa notícia, ela tentou se suicidar.

Em agosto de 1992, Fred foi preso sob acusação de estuprar a filha de 13 anos. Rose também foi detida, acusada de crueldade infantil. O caso contra eles fracassou em junho de 1993, quando a filha se recusou a testemunhar no tribunal.

Mas os cinco filhos mais novos dos Wests foram removidos para lares adotivos. Foi quando veio à tona o desaparecimento de Heather, que não era vista desde 1987, o que desencadeou a grande investigação que se seguiu.

A polícia encontrou restos mortais e aparentes sinais de tortura na residência da família, e Rosemary West, junto com seu marido, Fred West, foram presos em fevereiro de 1994.

Durante o julgamento, ela tentou colocar a culpa pelos assassinatos e estupros no marido. Mas as provas circunstanciais que se acumularam contra os dois foram consideradas suficientes para processá-la por dez assassinatos. Fred também foi acusado de mais dois homicídios cometidos durante a década de 1960, antes de sua associação com Rosemary.

Enquanto estava preso preventivamente, Fred cometeu suicídio, enforcando-se no dia 1º de janeiro de 1995. Rosemary West foi a julgamento em outubro daquele ano e condenada à prisão perpétua.

Ela nunca admitiu seus crimes.

Amaro Alves foi repórter de polícia antes de se aposentar e mudar para Belém (PA), de onde escreve com exclusividade para oacreagora.com